terça-feira, 24 de março de 2009

MENINO DE RUA

Na tua escola
Não usas caderno,
Nem livro ou sacola.
Teu mundo é a bola,
O espaço baldio,
O banho de rio,
Nadar no açude,
A bola de gude,
A pipa empinada
Com muita destreza,
Quebrar a vidraça,
Brincar lá na praça,
Fazer safadeza...

Teu mundo é só isso:
- Fazer rebuliço!
Tu és um pivete,
Tu pintas o sete!

Menino de rua,
Perdoa esse nome,
Perdoa tua fome
E os teus pés no chão!

Tu vives na tua
Universidade,
Onde o plavrão
É a erudição
De tua verdade...
- Terás o diploma
Da promiscuidade!

Menino de rua,
De todas as ruas,
Pois todas são tuas,
Nenhuma tu tens...
De onde tu vens?

Tu vens da singela
Palhoça ou favela...
Tu vens da sujeira,
Sem eira nem beira...
Menino, não sabes
Que aqui tu não cabes?

Vens de um submundo
Nefasto e imundo
- E bem sabes disso! -
Tu vens do mocambo,
Vestido em molambo,
Tu vens do cortiço!
Tu vens da penúria,
Tu és coisa espúria
No meio da massa!
Tu vens da pobreza,
Da amarga torpeza,
Do joio da raça!

Meu pobre menino,
Com mágoa te vejo
Qual fosses sobejo
De um mundo grã-fino...

Mas sei, meu menino,
- Menino de rua -
Na sorte que é tua,
Se és filho de Deus,
Tu és meu irmão!
- Não és um demônio!
- Não vives em vão!

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Um comentário:

PaulinhodeTarso disse...

Dom Anchieta, tou passando aqui pra dar um abraço e incluir nos favoritos esse bom blog.
Legal!
Poético, meio avacalhador, filosófico e politizado! Melhor dizer: anchietado!!!!
E nessa pendenga da lusofonia, nos diga: pela sua opção és acrEano ou acrIano?

Abração.
Paulinho