quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

SONETOS DE RAUL MACHADO

LÁGRIMAS DE CERA

Quando Estela morreu choravam tanto!
Chovia tanto nessa madrugada!
— Era o pranto dos seus, casado ao pranto
Da Natureza — mãe desventurada

Ninguém podia ver-lhe o rosto santo,
A fronte nívea, a pálpebra cerrada,
Que não sentisse logo, em cada canto
Dos olhos uma lágrima engastada !

Ah! ... não credes, bem sei, porque não vistes!
Mas, quando ela morreu, chorava tudo!
Até dois círios, lânguidos e tristes,

Acendidos à sua cabeceira,
Iam chorando, no seu pranto mudo,
Um rosário de lágrimas de cera!

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NO CAMPO SANTO

A sepultura em que repousa Estela,
– Lírio que, mal se abrira, desmaiara! –
Não tem jarros, estátuas, nem capela,
Nem inscrições em lousa de Carrara.

Mas é tão simples, tão florida e clara,
Que basta ver-se-lhe a feição singela,
A sua alvura, entre roseiras, para
Saber-se que é a sepultura dela...

É o mais pobre dos túmulos vizinhos...
E o mais lindo, entretanto, que há na terra!
Cantam, na sua cruz, os passarinhos...

E, ressurgindo em formas caprichosas,
A mocidade morta, que ela encerra,
Sorri à vida, transformada em rosas.

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Quem foi RAUL Campêlo MACHADO?

Era jurista, ensaísta, conferencista, escritor, poeta e poliglota.
Nasceu em 07 de abril de 1891, em Batalhão, atual Taperoá, Estado da Paraíba.
Iniciou os estudos em Taperoá, complementando-os no Lyceu Paraibano; a seguir, matriculou-se na Faculdade de Direito do Recife, onde cursou somente o 1º ano, indo concluir na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro.
Aos 15 anos, já compunha versos que publicava no Jornal A União, órgão oficial do governo do Estado da Paraíba.
Aprovado em concurso público, foi nomeado Auditor de Guerra, indo servir nos Estados do Paraná, Mato Grosso e Rio Grande do Sul.
Exerceu as funções: Promotor da Justiça Militar, em Pernambuco; Ministro do Tribunal de Segurança Nacional; Secretário Geral da Comissão Organizadora dos Estatutos dos Funcionários Públicos e Ministro Corregedor da Justiça Militar.
Era Membro da Sociétè dês hommes de lettres e da Sociétè Academique d`histoire Internationale, da França.
Faleceu em 19 de julho de 1954, a bordo no navio Provence, quando regressava da Europa, aonde fora em busca de tratamento de saúde.
Patrono da Cadeira 35 da Academia Paraibana de Letras

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3 comentários:

Brunno Damasceno disse...

Grande Professor Anchieta, não conhecia a obra do Raul Machado, esses sonetos são muito bons, outro nordestino que gosto muito (inclusive comprei um livro sobre ele lá em Fortaleza)é o Patativa do Assaré, são poesias populares que falam da vida dos nordestinos, com certeza você deve conhecer, adoro o blog, parabéns! Visite o meu: http://sambandocombrunno.blogspot.com

Alma Acreana disse...

Salve caro Poeta Anchieta,
fico lijonjeado em conhecer tão ilustre poeta, Raul Machado. Bendita Paraíba que nos deu e nos dá tantos filhos ilustres.
Um grande abraço!

MOISÉS DINIZ disse...

Passei por aqui só para rejuvenescer com as tuas poesias e dos teus poetas. Abraços