sábado, 11 de julho de 2015

A ESPERANÇA É A ÚLTIMA QUE MORRE

(*) José de Anchieta Batista
Dr. Antonio Malheiro, Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Acre, é uma dessas pessoas extraordinárias. Na alma deste valoroso técnico, mora uma criatura exemplar, um ser humano da melhor qualidade e um grande cidadão.  Ético, solidário, humilde, intelectual, traz sempre consigo uma pronta disposição para uma boa e agradável conversa, no além-fronteiras as coisas técnicas e enfadonhas da maldita burocracia. Quem não o conhece identifica, sem demora, tratar-se de um conhecedor profundo dos meandros da vida, e se vê diante de um verdadeiro filósofo, de quem se pode absorver sempre algum novo conhecimento.
Certo dia, concluídos os assuntos da pauta que me levara até seu gabinete, passamos a comentar os grandes desafios da previdência nacional, tanto do regime geral, quanto dos regimes próprios, aí incluída a previdência dos servidores públicos acreanos.
Em certo momento, eu lhe externei a amarga certeza que carrego comigo:
- Doutor Malheiro, o sistema previdenciário brasileiro está falido. Os cofres estaduais e municipais não aguentarão. Isto virou uma bomba-relógio. É um tsunami que está para chegar! Um apocalipse!
- Mestre Anchieta... - assim me trata ele bondosamente – Escute...
- Não se desiluda. Tudo irá para seu lugar. Mesmo que a bomba venha a explodir, nada ficará sem solução. As crises sempre abrem novos caminhos – falou-me pausadamente.
E continuou:
- Vamos ter esperança, mestre!  Muita esperança! Vou contar-lhe uma história que aprendi ainda criança:
Um sujeito foi preso e colocado na masmorra, por ter sido flagrado roubando uvas nos parreirais do reino. Os companheiros de cárcere disseram-lhe que não se livraria da morte. Em casos idênticos, ninguém tivera destino diferente.
- Prepare-se, amigo, você será enforcado! – todos lhe afirmavam.
Quando, dias depois, foi conduzido à presença de sua alteza real, confirmou-se a sentença: Pena de morte! - A execução seria dali a sete dias.
O sujeito, porém, parecia estar muito em paz. Não demonstrava preocupação com seu anunciado enforcamento, o que causava enorme espanto aos companheiros de prisão.
 - Cara, você é doido? Você vai morrer e parece que nada está acontecendo! - alertavam-no os demais encarcerados
Em resposta,  o sujeito passava o tempo todo tocando uma gaita, assobiando e cantando modinhas, como se a morte decretada não fosse a dele.
No dia seguinte, o vigário do reino, após o sacramento da confissão, conseguiu-lhe uma audiência com o rei, a fim de lhe suplicar clemência.
- Meu amado Rei! Vossa Poderosa e Augusta Majestade poderá ter o reinado mais famoso da Terra. Estou ensinando meu macaco a falar. Preciso de um ano para deixá-lo pronto para conversar. E quando isto acontecer, Vossa Majestade vai recebê-lo como presente deste seu humilde súdito.
O rei ficou impressionado com aquilo e depois de fazer-lhe algumas perguntas, sentenciou:
- A partir de hoje você está em liberdade e lhe será concedido um ano para que seu macaco fale. Passado esse tempo, se o macaco não falar, forca!
O sujeito saiu dali aos pulos, correndo em círculos, numa alegria sem fim, gargalhando, sorrindo, gritando para todo mundo:
- Viva! Viva! O Senhor meu Rei me livrou da forca! Estou livre! Viva meu macaco! Viva!
Seus amigos o interpelaram, diante de tamanha euforia:
- Como é isso, cara?  Você, de qualquer forma, vai morrer daqui a um ano... Por que toda essa comemoração?
- Por acaso, vocês sabem o que significa um ano para mim? – gritou exultante, para em seguida se explicar:
- Durante um ano, meus amigos, o rei pode morrer... eu posso morrer...   o macaco pode morrer... o mundo pode se acabar... tudo pode acontecer! 
E arrematou:
- Pode até ser que, durante esse tempo, eu consiga fazer o macaco falar!
 Gargalhou mais uma vez, acendeu um cigarro, deu uma gostosa baforada... e dobrou a esquina assobiando, todo prosa, agarrado à inabalável certeza de que a esperança é mesmo a última que morre.
- Obrigado, Dr. Malheiro. Rezemos para que nosso gorila previdenciário brasileiro não demore a falar.

Nenhum comentário: