José de Anchieta Batista
Estou no septuagésimo
terceiro degrau de minha atual passagem pelo planeta Terra. Neste estágio da
travessia, há um sentimento de estar vivendo num compartimento separado dos
demais. Falo assim, mas não me imaginem um velho rabugento, resmungão e
recantado. É que, nestes momentos da vida, passamos a apreciar um certo tipo de
solidão, que não sabemos descrever. Isso porque, como idosos, nossa ocupação predileta
é pensar, é avaliar a trajetória percorrida, é amargar arrependimentos que não
levam a lugar nenhum, já que a roda do tempo não gira para trás. As celebrações
referentes ao passado quase não existem. Neste crepúsculo vespertino da vida,
descobrimos que ainda não sabemos quem somos. Parece até que perdemos todo nosso
viver numa construção sem sentido.
Nessas malucas lucubrações
da velhice, surgiu-me, num desses dias, súbito questionamento de como seria a
humanidade, se quem a inventou não houvesse nos ofertado as maravilhas e o
poder do sexo. E de imediato brotou-me a resposta. Ora, sem uma forma de
reprodução da espécie, com certeza a humanidade
teria se resumido às mitológicas figuras de Adão e Eva. Mas não foi bem assim.
O Criador de tudo isso determinou aos dois primitivos humanos “crescei e multiplicai-vos!”,
numa clara ordem para que não parassem de produzir novas criaturas semelhantes,
a fim de ocuparem todo o planeta Terra. Para tanto, o casal original não teve a
menor dificuldade em identificar e usar os instrumentos desse trabalho. De imediato
descobriram quão maravilhoso era aquilo. E o que era apenas para fabricar mais
gente, transformou-se no divertimento mais esplendoroso da vida. E o
“mexe-mexe”, além de ser a maior e insuperável diversão humana, tornou-se
responsável por essa confusão desenfreada que é o mundo. Em todo recanto, só se
pensa “naquilo”.
Não sei se é plenamente
correta a informação, mas o professor Google me disse que a média de duração do
orgasmo masculino é de três a cinco segundos e o feminino chega a atingir dez. Parabéns
ás mulheres, pela generosidade do Criador, ofertando-lhes um gozo muito mais
longo do que temos nós, os machos. Maravilha, queridas.
O tão esplendoroso ato
sexual, que para mim é o encontro mais profundo de duas almas, divido-o, na
minha maneira rude e brincalhona de ser, em dois estágios: os “prolegômenos” e os
“finalmentes”. Este último é como se fosse a batalha final, que culmina com o
êxtase indescritível do orgasmo.
Neste ponto de minha grosseira
análise, surge-me outro questionamento: E
se houvesse o sexo, mas não existisse o orgasmo, para coroar os “finalmentes”,
como seria cumprida a ordem dada por Deus?
Ah, ninguém se iluda. Sem a fome que atraem os corpos, sem o fogo
ardente da volúpia, sem a explosão do orgasmo, isso que chamamos vulgarmente de
“gozo”, ninguém iria perder tempo de estar agarrado por aí, se lambuzando um no
outro, sem chegar a lugar nenhum. A multiplicação também estaria comprometida
e, dessa forma, a Terra estaria hoje vazia.
Admito como verdade que se o
Criador nos fez com sexo, aquele que o repudia está contra Deus. Foi feito para
ser usado, evidentemente dentro de princípios saudáveis apontados pela razão. Claro
que o mau uso, os abusos, as violências, as práticas doentias que estão em
nosso cotidiano, não são aceitáveis. São anomalias. A luz vermelha tem que
estar sempre acesa, pois manter-se em plena normalidade racional é bem difícil.
O sexo é poderoso, enlouquece, mexe com tudo em nosso corpo, desequilibra,
leva-nos a insensatez. Isso tudo, em busca daqueles três segundinhos de extremo
êxtase que vêm coroar o ritual dos prolegômenos.
Mas o que é normal no sexo?
Tudo! Desde que se respeite o que verdadeiramente tem que ser respeitado,
principalmente o outro. E o resto é o resto.
Certa vez um sujeito que se
dizia “profeta e homem de Deus”, me disse que um casal deve fazer sexo sem
volúpia, sem lascívia, sem excesso de sensualidade. Era pecado. Quase mando o
falso moralista à merda. O autêntico imbecil não soube me dizer como é possível
fazer isso.
Vem do ser humano, em meio a
tantas maravilhas que o Criador nos ofertou, fazer o belo ficar feio, mudar as
cores da vida, colocar no que é puro os trajes do pecado, transformar as
dádivas sagradas em instrumentos de infelicidade.
Meus amigos, fico por aqui.
Sequer sei porque hoje falei
sobre esse lado saboroso da vida. Não estranhem, pois na velhice também se
pensa naquilo. Ademais, além de este combatente ainda não estar vencido, morto
e enterrado, carrega saborosíssimas reminiscências... e sei que já fui muito
bom nisso!
Finalmente, não se esqueçam
de que, em tudo o que acima abordei, a presença do amor é o ingrediente mais
fabuloso para que a plenitude seja atingida.
O sexo é divino, minha gente!
Um comentário:
"Na velhice também se pensa naquilo."
Amém!
Um abraço, direto do Nordeste ensolarado.
Daslan Melo Lima
Timbaúba, PE
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