sábado, 14 de março de 2009

Prantos por uma meretriz

Disseram-me agora
que Leda Maria
Morreu num bordel,
Em meio à imundície...
E esta notícia
soou-me cruel!

Mergulho no longe
De tempos distantes!
Fagulhas de instantes
Me vem do passado...
E Leda Maria,
Em minha lembrança,
Revejo criança...

Ninguém, com certeza,
Lá na redondeza,
Mais bela que ela
Jamais conheceu!
- Primeira paixão!
- Primeira ilusão!
- Primeiro amor meu!

Um dia embriaguei-me
No olor dessa flor!
Sorvi-lhe do beijo
O virgíneo sabor!
E nós nos amamos,
E nós dois pecamos,
Se é que é pecado
Pecar por amor!

- Que houve depois?

- A sórdida sina
Pra longe a levou...
A vida que é treda
Roubou minha Leda
E em Leda Maria
Não mais se falou...

O expresso da vida
Deixou-a pra trás...
E Leda Maria
Não vi nunca mais!

Cumpri pela vida
Meu torpe destino,
Aos poucos, morrendo,
Doendo no peito
Meu sonho desfeito
Ainda menino.

Disseram-me agora
Que Leda Maria
Morreu num bordel,
Em meio à imundície...
E esta notícia
Soou-me cruel!

Se ainda a amava?

- Não sei! Eu não sei!
Não foi só por pena
De Leda Maria
Que hoje eu chorei!

(Anchieta)

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