sexta-feira, 16 de abril de 2010

Ainda a poesia de Raimundo Correia

AS POMBAS

Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
Das pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sangüinea e fresca a madrugada.

E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais, de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...

Também dos corações onde abotoam
Os sonhos, um a um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais.
***
(Este lindo soneto levou o poeta a ser chamado de "o poeta das pombas". Isso o deixava extremamentente irritado. Teve, contudo, de conduzir essa chateação consigo por toda a vida. Se ele adivinha esse transtorno, com certeza não nos teria deixado peça literária tão expressiva.)
                               ***                              

Um comentário:

Alma Acreana disse...

Salve caro Anchieta,
uma bonita poesia de um poeta extraordinário.

Um grande abraço!