sexta-feira, 23 de abril de 2010

PADRE ANTONIO THOMAZ - EXTRAORDINÁRIO POETA CEARENSE

TEXTO SOBRE O PADRE ANTONIO THOMAZ
Fonte:  http://www.revista.agulha.nom.br/pantonio.html#bio
“Demócrito Rocha, através de sua revista Ceará Ilustrado, em 1924, lançou concurso para saber quem era o Príncipe dos Poetas Cearenses. O padre Antônio Thomaz, sem livro de poesia publicado — colaboração esparsa em jornais e revistas —, foi o ganhador. Consta mesmo que, numa das cláusulas de seu testamento, pedia que seus poemas nunca fossem reunidos. Parece que até hoje os cearenses cumprem tal determinação, o que não tem impedido o poeta de aparecer em várias antologias nacionais. Mais de cem sonetos espalhados por várias publicações, o padre Antônio Thomaz começa mesmo a estampar a sua obra dispersa em 1901, através do jornal A República, não tendo mais parado. Não que se empenhasse para publicar, mas porque os admiradores e amigos iam atrás dele em busca de seus sonetos. Romantismo, eivado de simbolismo, às voltas com a forma parnasiana, o poeta não fugiu ao emblemático poético de seu tempo.
O padre Antônio Thomaz nasceu no dia 14 de setembro de 1868, em Acaraú. Raimundo de Menezes registra Antônio Thomaz de Sales, filho do professor Gil Thomaz Lourenço e Francisca Laurinda da Frota. Em Sobral estudou as primeiras letras, latim e francês, entrando para o Seminário de Fortaleza, onde se ordena em 1891. Tendo feito voto de pobreza, Antônio Thomaz passou praticamente toda a sua vida em paróquias do interior, levando vida modesta e apagada, dedicado à missão, escrevendo versos e cuidando dos passarinhos, como lembra Raimundo Girão. Após o apostolado, não tanto anônimo por causa do ser poeta, Antônio Thomaz vai morar em Santana. A saúde anda precária e se muda para Sobral e, no fim da vida, para Fortaleza, onde morre no dia 16 de julho de 1941.  Foi sepultado na Matriz de Santana.
Atendendo os amigos ao seu pedido foi sepultado sem caixão ou lápide para marcar-lhe a sepultura. "Quero ainda que meu corpo seja enterrado sem esquife, e que a pedra da sepultura seja reposta no mesmo plano ficando debaixo do chão, e que não se ponha em tempo algum, sobre ela, nome, data, inscrição ou qualquer sinal exterior que a faça lembrada". Esqueceu-se o poeta, no entanto, de queimar os seus versos, e vive, lembrado e imortal, por causa deles.”
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ALGUNS DE SEUS SONETOS:

 O PALHAÇO (Padre Antonio Thomaz)


Ontem, viu-se-lhe em casa a esposa morta
E a filhinha mais nova, tão doente!
Hoje, o empresário vai bater-lhe à porta,
Que a platéia o reclama, impaciente.


Ao palco, em breve surge... pouco importa
O seu pesar àquela estranha gente...
E ao som das ovações que os ares corta,
Trejeita, canta e ri, nervosamente.


Aos aplausos da turba, ele trabalha
Para ocultar no manto em que se embuça
A cruciante angústia que o retalha.


No entanto, a dor cruel mais se lhe aguça
E enquanto o lábio trêmulo gargalha,
Dentro do peito o coração soluça.


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CONTRASTE (Padre Antonio Thomaz)


Quando partimos no verdor dos anos,
Da vida pela estrada florescente,
As esperanças vão conosco à frente,
E vão ficando atrás os desenganos.


Rindo e cantando, célebres, ufanos,
Vamos marchando descuidosamente;
Eis que chega a velhice, de repente,
Desfazendo ilusões, matando enganos.


Então, nós enxergamos claramente
Como a existência é rápida e fugaz,
E vemos que sucede, exatamente,


O contrário dos tempos de rapaz:
– Os desenganos vão conosco à frente,
E as esperanças vão ficando atrás.


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A MERETRIZ (Padre Antonio Thomaz)


Essa mulher de face encaveirada
Que vês tremendo em ânsias de fadiga,
Estendendo a quem passa a mão mirrada
Foi meretriz, antes de ser mendiga.


Em breve lhe fugiu a sorte airada,
A mocidade, a doce quadra amiga,
E viu-se ela pobre e desgraçada,
Antes de tempo, a tanto o vício obriga.


Ontem, do gozo e da volúpia ardente
Fosse a quem fosse dava a qualquer hora
O seio branco e o lábio sorridente.
 
Hoje a triste sina, embalde chora
Pedindo esmola àquela mesma gente
Que de seus beijos se fartara outrora.


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DESENGANOS (Padre Antonio Thomaz)


Muitas vezes sonhei nos tempos idos,
Acalentando sonhos de ventura,
Então a voz da lira suave e pura
Era-me gozo d'alma e dos sentidos.


Hoje, vejo meus sonhos convertidos
Num acervo de dores e amargura
E percorro da vida a estrada escura
Recalcando no peito os meus gemidos.


E se tento cantar, como remédio
Às minhas mágoas, ao sombrio tédio
Que lentamente as forças me quebranta,


Os sons que arranco à pobre lira agora,
Mais parecem soluços de quem chora
Do que a doce toada de quem canta.


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