Em 2007, na véspera de enviar o material
de meu livro MENINO DA RUA DO BAGAÇO para a editora, não havia ainda o
tradicional “prefácio”. Não tinha me disposto pedir isso a ninguém, embora eu
mesmo pudesse escrevê-lo. O mais usual é que se procure outro autor, geralmente
já consagrado.
Acontece sempre o seguinte: O escritor
sem fama, às vezes visivelmente constrangido, vai suplicar a personalidades
famosas e tidas como cultas e eruditas, para fazê-lo. O mais das vezes busca
algum frequentador do “chá das cinco” lá das academias de letras. É que o
prefácio é uma carta de apresentação, em que alguém faz referências ao autor,
ao conteúdo existente entre uma capa e outra, e promove exagerados ou
cautelosos elogios. As palavras são escolhidas de forma a não comprometer
ninguém. Nem o pedestal do prefaciador, nem a qualidade literária do pretenso
escritor ou escrevinhador. Assim, o prefácio pode ser algo bem sincero, mas tem
tudo para vestir-se de caridosa hipocrisia.
Bem, amigos, naquele momento, diante de
tão humildes escritos, optei por não suplicar a caridade de ninguém, e, à guisa
de prefácio, escrevinhei os versos abaixo:
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EM VEZ DE PREFÁCIO, UM PRÉ-FÁCIL
Queiram desculpar-me o atrevimento,
Por esta obra que a vocês eu passo...
Denominada no seu nascimento
De “Menino da Rua do Bagaço”!
A linguística faz-se aqui precária,
Mas os meus sentimentos são profundos...
Não se trata de obra literária:
- São pedaços de vidas e de mundos!
Pela modéstia não irá somar
Alguma coisa à nossa “Flor do Lácio”,
E por isso fugi de suplicar
Que alguém me fizesse algum prefácio.
Jogar-me-iam, com certeza, flores,
Num estilo de atroz verborragia...
- “Ao notável poeta, mil louvores!” -
E por detrás de tudo: - a hipocrisia!
Para que ocupar um erudito
Que com certeza pouco tempo tem?
É tão humilde o que eu tenho escrito
Que eu me proíbo perturbar alguém!
Talvez sobejamente o livro peque
Por ser este menino inconsequente...
Mas assim mesmo nasce este “moleque,”
Travesso, humilde, pobre e irreverente.
(José de Anchieta Batista) “
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