domingo, 30 de julho de 2017

O PREFÁCIO DO MENINO DA RUA DO BAGAÇO

Em 2007, na véspera de enviar o material de meu livro MENINO DA RUA DO BAGAÇO para a editora, não havia ainda o tradicional “prefácio”. Não tinha me disposto pedir isso a ninguém, embora eu mesmo pudesse escrevê-lo. O mais usual é que se procure outro autor, geralmente já consagrado.
Acontece sempre o seguinte: O escritor sem fama, às vezes visivelmente constrangido, vai suplicar a personalidades famosas e tidas como cultas e eruditas, para fazê-lo. O mais das vezes busca algum frequentador do “chá das cinco” lá das academias de letras. É que o prefácio é uma carta de apresentação, em que alguém faz referências ao autor, ao conteúdo existente entre uma capa e outra, e promove exagerados ou cautelosos elogios. As palavras são escolhidas de forma a não comprometer ninguém. Nem o pedestal do prefaciador, nem a qualidade literária do pretenso escritor ou escrevinhador. Assim, o prefácio pode ser algo bem sincero, mas tem tudo para vestir-se de caridosa hipocrisia.
Bem, amigos, naquele momento, diante de tão humildes escritos, optei por não suplicar a caridade de ninguém, e, à guisa de prefácio, escrevinhei os versos abaixo: 
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EM VEZ DE PREFÁCIO, UM PRÉ-FÁCIL

Queiram desculpar-me o atrevimento,
Por esta obra que a vocês eu passo...
Denominada no seu nascimento
De “Menino da Rua do Bagaço”!

A linguística faz-se aqui precária,
Mas os meus sentimentos são profundos...
Não se trata de obra literária:
- São pedaços de vidas e de mundos!

Pela modéstia não irá somar
Alguma coisa à nossa “Flor do Lácio”,
E por isso fugi de suplicar
Que alguém me fizesse algum prefácio.

Jogar-me-iam, com certeza, flores,
Num estilo de atroz verborragia...
- “Ao notável poeta, mil louvores!” -
E por detrás de tudo: - a hipocrisia!

Para que ocupar um erudito
Que com certeza pouco tempo tem?
É tão humilde o que eu tenho escrito
Que eu me proíbo perturbar alguém!

Talvez sobejamente o livro peque
Por ser este menino inconsequente...
Mas assim mesmo nasce este “moleque,”
Travesso, humilde, pobre e irreverente.


(José de Anchieta Batista) “

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