(*) Zé Adalberto – Itapetim-PE
Muitas vezes,
sozinho, eu me pergunto:
Pra que tanta
riqueza, se depois
Que o caixão
encostar e couber dois,
O amigo melhor não
quer ir junto?
Pra que cara
fragrância, se o defunto
Não exige perfume
da “natura”?
Mesmo a alma é
cheirosa quando é pura,
Mas o cheiro do
corpo ainda enjoa.
Pra que tanta
riqueza, se a pessoa
Nada leva daqui pra
sepultura?
Pra que casa
cercada por muralha,
Se a cova é cercada
pelo pranto?
Se pra Deus todos
têm do mesmo tanto,
Tanto faz a fortuna
ou a migalha.
Pra que roupa de
marca se a mortalha
Não requer
estilista na costura,
Se o cadáver que a
veste não procura
Nem saber se a
costura ficou boa?
Pra que tanta
riqueza, se a pessoa
Nada leva daqui pra
sepultura?
Pra que eu me
esconder detrás de um pão,
Se a miséria não
bate em minha porta?
Pra que eu me
cansar regando horta,
Se amanhã ou depois
já é verão?
Pra que eu confiar
no coração,
Sem saber quanto
tempo a vida dura?
Se as feridas da
alma não têm cura,
Quando é a ganância
que as magoa?
Pra que tanta
riqueza, se a pessoa
Nada leva daqui pra
sepultura?
Não sou dono de
ônibus nem de trem,
Mas enquanto eu
puder me locomovo.
Pra que eu invejar
um carro novo,
Se o transporte
final nem rodas tem?
Nem me avisa
dizendo quando vem,
Mas só anda na
minha captura
E bem abaixo da sua
cobertura,
Ele tem quatro
asas, mas não voa.
Pra que tanta
riqueza, se a pessoa
Nada leva daqui pra
sepultura?
Pra que eu toda hora
dar balanço
No que eu tenho ou
andar atrás de bingo?
Pra que tanta hora
extra no domingo,
Se Deus fez esse
dia pro descanso?
Pra que eu
trabalhar feito um boi manso,
Se a chibata do
dono me tortura?
Pra que eu reclamar
de minha altura,
Se o que a mão não
alcança, Deus me doa?
Pra que tanta
riqueza, se a pessoa
Nada leva daqui pra
sepultura?
Pra que eu com dois
olhos na barriga,
Se os da cara já
são suficientes?
Pra que eu invejar
os meus parentes,
Se eu já sei que o
retorno é uma intriga?
A formiga que evita
ser formiga
Cria asas, se torna
tanajura,
Cresce a bunda
demais, cria gordura,
Fica muito pesada e
cai à toa.
Pra que tanta
riqueza, se a pessoa
Nada leva daqui pra
sepultura
*********
(*) José
Adalberto Ferreira (Zé Adalberto), nasceu no sítio Juá, Município de Itapetim –
Pernambuco, em 25 de junho de 1962. Zé Adalberto não é
cantador de profissão. Até os 25 anos de idade foi agricultor e, desde 1985, é
funcionário público, na função de Auxiliar de Serviços Educacionais, lotado no
Grupo Escolar Tereza Torres – Itapetim – PE. É um extraordinário poeta
nordestino, tendo muitas de suas poesias publicadas em diversos livros e coletâneas. (Foto: O poeta em casa com esposa e filhos)
(Informações colhidas do Blog “Itapetim.net –
Poetas e Declamadores”)
Nenhum comentário:
Postar um comentário