segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

OS MESMOS URUBUS












Ali sempre estavam eles...
Eram centenas, milhares,
Com seus voos circulares,
Boçais, garbosos à beça,
Nos céus brincando sem pressa,
Como senhores dos ares...


Ali sempre estavam eles...
Vestidos muito a rigor,
Em preta e retinta cor.
Naquele horrível mormaço
Eles brincavam no espaço,
Dos ventos, indo ao sabor.

Ali sempre estavam eles...
Uns nos céus, outros no chão,
Em meio à putrefação...
Pra eles - fartura e festa,
Para nós - cena funesta
Dos horrores do Sertão.

Faz muito tempo... a saudade 
Ao meu rincão me conduz...
- Mesmo sofrer, mesma cruz,
Mesma dor, mesma tristeza...
A sede, a fome, a pobreza
E os mesmos urubus...

(Anchieta)



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