sexta-feira, 8 de maio de 2009

O CIRCO

(Naquelas cidadezinhas do interior da Paraíba, quando aparecia um circo, a criançada mais pobre acompanhava o palhaço pelas ruas, a fim de ganhar ingressos para o espetáculo. Eu participei desse ritual. Numa dessas oportunidades, não me saí muito bem.)
.
- Hoje tem espetác´lo?
- Tem sim, sinhô!
- Nove horas da noite?
- É sim, sinhô!
- Tem vôo da morte?
- Tem sim, sinhô!
.
Era a meninada,
Toda alvoroçada,
Na rua, na praça,
Seguindo o palhaço,
Querendo assistir
Ao circo "de graça"!
.
No último dia,
- No último, só -
Mamãe teve dó,
Pois ela sabia,
Bem dentro de mim,
A ânsia que havia...
.
Com terna carícia,
Beijou-me no rosto
E, contra seu gosto,
Após forte abraço,
Deixou que eu saísse
Atrás do palhaço.
.
E lá fomos nós,
Como em procissão...
E em uma só voz,
Com todo vigor,
Gritando o refrão:
- Tem sim, sinhô!
.
À frente, o palhaço,
Um tal "Catatau",
Com cara pintada
De forma engraçada
E quase três metros
De perna de pau.
.
O circo era, em tudo,
A maior novidade,
Pois nunca outro igual
Houvera passado
Por nossa cidade.
.
E atrás do palhaço,
Com todo o vigor,
Gritando o refrão:
"Tem sim, sinhô!",
A gente seguia...
- Só filhos de pobre,
Que o filho do nobre
Comprava o bilhete
Na bilheteria.
.
Já faz muitos anos
E eu nunca esqueci
Do que aconteceu.
A tarde inteirinha
Gritei, fiquei rouco,
Mas isso foi pouco!
Que azar tive eu:
- O filho da Anita
Roubou-me o bilhete
Que o homem me deu!
.
(José de Anchieta Batista)

Um comentário:

Alma Acreana disse...

Meu caro ANCHIETA,
Vi pedaços de mim no seu poema,
tem uma beleza e uma força impressionante.
Um fraterno abraço!