sábado, 11 de julho de 2009

Quando criança

Quando eu era criança
pensava que era bom ser bom
porque Deus era muito carrasco...
eu queria ser bom para algum dia
ter o direito de subir por algum arco-íris...
e entrar no céu...
(o arco-íris era um caminho colorido por onde os homens bons chegavam a Deus.)
Quando eu era criança,
pensava que os trovões eram a voz de Deus com raiva de nós...
pensava que Deus procurava os homens maus com as luzes dos relâmpagos...
então os matava com os raios que caíam do céu...
depois os trancava no inferno para sempre...
Quando eu era criança,
pensava que os urubus faziam seus ninhos bem perto dos céus...
e eu queria subir na montanha
para de lá subir nas nuvens
e então encontrar seus ninhos...
Como um menino bom, teria o direito e o prazer de voar com eles...
Ah! que tempos!
E agora?
Que me restou de tudo aquilo?
Que me restou daqueles meus pensares?
Que me restou daqueles meus pavores infantis?
Não sei!
Tentei ser bom... não sei se perdi meu tempo...
Quis ser sempre um menino, mas cresci...
sobrando-me, contudo, algo importante:
- eu não deixei morrer minha criança...
Já não mais me fascina o arco-iris,
Já não mais me apavoram os trovões nem os relâmpagos,
Já não mais olho para os urubus...
Mas, que bom!
- Já não tenho mais medo de Deus!

(Recife,PE, 10/07/2009)
(Anchieta)

4 comentários:

Alma Acreana disse...

Meu caro Anchieta,
seu poema retrata aquilo que muitos de nós também sentimos. Infelizmente em vez de sermos apresentados a um Deus que é amor, misericórdia, os homens, a Igreja, nos aterrorizaram com a imagem de um Deus castigador e até mesmo invejoso.
Por coincidência, estou terminando um texto sobre Deus, justamente nesse aspecto que você abordou.
Um forte abraço meu amigo. E boa estada aí em Pernambuco. Estou em Minas, e sigo ainda hoje para a Bahia.

Dona Chicosa disse...

Também, como você, acreditei em muitas fantasias,
algumas até hoje me atormentam...
Mas, nunca acreditei neste deus que castigava infinitamente nossas faltas.
Talvez o bom relacionamento que tinha com meu pai, não me deixasse crê Em um Pai que não fosse amoroso tanto quanto o meu.
Adorei a sua poesia.
Está linda!
Como tudo que você escreve, embora, algumas sejam tão tristes.
Beijos

ANCHIETA disse...

Glads,

Seu comentário me emocionou. Fiquei lisonjeado.

Obrigado.

Beijos

Anchieta

Anônimo disse...

Professor,
Concordo com sua digníssima.
Como tudo que o Sr. escreve, sua poesia está linda!
Lembrei da letra de uma música de Paulinho Moska, cujo título é: Medo de Deus.

Às vezes tenho medo de Deus
Dos dias que Ele acorda de mau humor
Às vezes tenho medo do Seu Amor

Às vezes tenho pena de Deus
Das noites que Ele bebe e não sabe o que faz
Depois põe a culpa no destino e se esconde atrás

Quando decide que alguém tem que partir
Quando Ele dorme ou se distrai

Às vezes tenho raiva de Deus
Quando Ele se mostra cego como uma lâmpada queimada
E surdo como uma pedra dentro d'água

E às vezes sinto falta de um deus
Que realmente cuide bem do seu asilo de loucos
E nos dê finalmente uma vida guardada pra poucos

Porque essa dor sem nome tem que ter fim:
A dor de não saber de onde eu vim

Abraços
Priscila Cunha Rocha