quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

EULÁLIA

Poema de ROGACIANO LEITE

Deixei-a solitária por uns dias,
Enquanto melhorava do ciúme,
E saí pra evitar muitas porfias
Que entre nós se davam de costume.

Nesse tempo eu andava arruinado...
E as brigas entre nós, frequentemente,
Transformavam a abelha do passado
Numa aranha de dor sempre presente!

Então o inseto que fazia, outrora,
Mel de carícias na feliz colmeia,
Vinha fazendo entre nós dois, agora,
O fel da vida - numa horrível teia!

Corri mundos, andei por terra estranha,
Procurando renúncia, esquecimento...
Mais, dia-a-dia, se infiltrava a aranha
Na teia enorme do meu pensamento!

Mandava-lhe presentes de onde estava,
Escrevia-lhe cartas carinhosas
Pedindo que esperasse que eu voltava
E novamente nasceriam rosas...

Mas, uma noite, triste noite, amigo,
Eu entrei num cassino, que amargura!
Ah! Não chores de ouvir o que te digo
Nem te rias da minha desventura!

A sala estava cheia de cinismo
Dos que, no vício, vão matar a sede...
Era um antro de fumo e alcoolismo,
Com visões sensuais pela parede!

Um perfume de bétulas e sândalos
Recendia da carne e sedas finas,
E a luz envergonhada dos escândalos
Parecia tremer sob as cortinas!

A dona do cassino, a abelha-mestra
Do cortiço infeliz, torpe e devasso,
Dava bebida aos maganões da orquestra
E mandava agitar sempre o compasso...

Enquanto os instrumentos gargalhavam
Na frivolência do pagode insano,
Eu distinguia as notas que choravam
Nas cordas ultrajadas de um piano!

Mais tarde, era o intervalo do pecado...
Enquanto a orquestra demorava o ensaio,
A pianista curvando-se ao teclado,
Dedilhava a canção Rosa de Maio...

Era aquela canção - quando partimos -
A que Eulália tocava todo o mês...
Pois foi no mês de maio que nos vimos,
Eulália e eu - pela primeira vez!

Recordação, saudade, sofrimento...
Aproximei-me sem saber por quê...-
Era Eulália que estava no instrumento!
Sim, Eulália... vestida de "soirée"!

Quando me viu, eu vi também seu vulto
Afogar-se nas brumas de um desmaio...
E até hoje em minh`alma um piano oculto
Vive sempre a tocar Rosa de Maio!

4 comentários:

Anônimo disse...

Há muito que procurava encontrar esse poema. Enfim encontrei. Nada como encontrá-lo em um blog de um poeta nascido em Teixeira. Pequena cidade que encontramos logo ao cruzarmos a divisa entre Pernambuco e Paraíba. Logo depois de São José do Egito. É a vida e a poesia da região que se espalham por esse imenso país. Indo até o ACRE!

Anônimo disse...

obrigado amigo deteixeira e tambem do acre vois mecê nem nimguem poderia escolher nada melhor para postar!

Unknown disse...

Quando jovem docorei esse poema e declamei poi onde passava, irei declamá-lo na associação dos filhos de Aguiar em João Pessoa, depois de muitos anos, fiquei feliz por encontrar a postagem.
Meu nome é Luzenira, sou de Aguiar(Pb) e moro há 35 anos em Natal.

Unknown disse...

Quando jovem docorei esse poema e declamei poi onde passava, irei declamá-lo na associação dos filhos de Aguiar em João Pessoa, depois de muitos anos, fiquei feliz por encontrar a postagem.
Meu nome é Luzenira, sou de Aguiar(Pb) e moro há 35 anos em Natal.