domingo, 3 de janeiro de 2010

ROGACIANO LEITE (TRANSCRIÇÃO DE MATÉRIA DE AUTORIA DO POETA ÉSIO RAFAEL)


"ROGACIANO LEITE - Um poeta popular e erudito

À Helena Marinho
por Ésio Rafael*

Rogaciano Bezerra Leite nasceu no Sítio Cacimba Nova, pertencente à Vila Umburanas, hoje Itapetim, Pajeú pernambucano, no dia 01 de Julho do ano de 1920. Ainda hoje, existe a polêmica, no que concerne à naturalidade do poeta. É que à época, a Comarca se localizava em São José do Egito, logo, Rogaciano, Os irmãos Batista: Louro, Dimas e Otacílio, Jó Patriota, além de outras “feras”, nasceram realmente em Itapetim, mas tudo pertencia à São José do Egito. E agora? Bom, polêmica à parte, o fato é que Rogaciano faleceu no dia 07 de Outubro de 1969, no Hospital: Souza Aguiar, Rio de Janeiro. Infarto do miocárdio. Aliás, existem dois deuses da poesia Pajeuzeira, Rogaciano Leite e João Batista de Siqueira, Cancão, na concepção do seu povo. Apesar das diferenças entre eles, algumas coincidências os aproximam: poetas da mesma região, da mesma “torceira”, além da questão literária. Assim como Rogaciano, Cancão leu: Fagundes Varela, Cassimiro de Abreu, e, logicamente, Castro Alves. Aliás, alguns estudiosos querem afirmar o fato de Cancão não ter conhecido a mitologia Grega, e no entanto mostrar para o público uma intimidade que somente se explicaria através da Psicografia, principalmente para os adeptos de Kardec. Cancão estava limpando mato no seu sitio, em São José do Egito, quando de repente deu uma chuva. O poeta correu para se proteger embaixo de um pé de joazeiro. Fora quando ele se lembrou de uma Professora de Sertânia, moxotó, perto de São José, que ele mantinha uma simpatia por ela. Vejamos que prêmio que ele aprontou para ela: “És das regiões polares / A mais delicada planta / Vives igual uma santa / Entre as toalhas lunares / Os gênios dos longos mares / Dão-te atração soberana / Es a mais gentil liana / Em forma de criatura / Nasceste da ninfa pura / Da maresia indiana.


Poeta-repentista de primeira grandeza, escritor, jornalista (Gazeta do Ceará), compositor e boêmio. São alguns traços que compuseram a personalidade de Rogaciano. Funcionário do Banco do Nordeste S.A., migrou para o Rio e São Paulo entre os anos 50 e 55. Repórter de: A Última Hora e Revista da Semana. Diplomado em Literatura Clássica - 1949, Faculdade de Filosofia do Ceará. Intelectual, leitor de vários clássicos da literatura brasileira, dentre eles, os ultras românticos. “Ele era de fato um poeta Castralvino. Assim falou o Professor pesquisador – Aleixo Leite. Pois, além de ler: Fagundes Varela, Cassimiro de Abreu, Gonçalves Dias, Cruz e Souza, o poeta tinha uma afeição especial por Castro Alves, como rezam os seus textos.


“Perdulário de inteligência e da imaginação”, segundo depoimento de Carlyle Martins, da – Gazeta de Notícias do Ceará. Fernando Viana da Academia Maranhense de Letras: “Ouvir Rogaciano, não é encher os ouvidos de versos, é extasiar-se da própria poesia. É confundir-se com os homens na sublimação do Belo. Isso ocorreu em 47.


Várias obras de sua autoria compuseram o acervo do poeta Rogaciano: “Acorda Castro Alves”, “Quando Eles se Encontram Novamente”, “Dois de Dezembro”, “Poemas Escolhidos”, “A Vida de Antônio Silvino”, “A Vida do Cego Aderaldo”, “Os Trabalhadores” (Excelente!); “Carne e Alma” (Este traduzido por vários idiomas). Sobre o seu livro: “A Ronda do Tempo”, (Imprensa Oficial, Natal-71), escreveu Câmara Cascudo: “Rogaciano é uma visão arrogante de Castro Alves, um Rutebeuf sem fome, e um François Villon sem frutos dono de um sitio em Messejana, e de um cavalo cadilac.


Viajando para a Europa, como componente de uma caravana sob a tutela de - Assis Chateaubriand, Embaixador do Brasil em Londres, cujo destino era uma festa em um Castelo das Ilhas Britânicas. Rogaciano se apaixonou por uma francesinha, por isso, o Pajeú, o Ceará e o Brasil, ganharam mais poesias. O homem escreveu 100 sonetos dedicados a essa mulher (100 sonetos para Ane). Diz-se que com o fim do romance, o poeta ficara desestruturado, a ponto de o caso ter sido também, a razão de seu fim.
O poeta, foi enterrado no cemitério: São João Batista, em Fortaleza, terra escolhida por ele próprio, como a de seu coração, embora que enfartado. Os “Diários Associados” foram responsáveis pelo translado do corpo. O seresteiro: Osvaldo Santiago cantou em sua cova/túmulo, a valsa: “Cabelos Cor de Prata”, da autoria do poeta, gravada por Sílvio Caldas.


Aqui por estas areias
Já correram muitos pés...
Estalaram muitos arcos,
Vibraram muitos borés...
Estes garbosos coqueiros
São fantasmas de guerreiros
Que o tempo não quis matar!
Estas palmeiras delgadas
São índias apaixonadas
Por homens brancos do mar!

Trecho do poema “Ceará Selvagem” de Rogaciano Leite

INFORMAÇÕES DE AMIGOS:

Jó Patriota - O último dos Líricos, era fã de Rogaciano, e falava muito em seu nome. “Rogaciano era um poeta danasco, alto, forte, elegante, vasta cabeleira, boêmio. Ele chegava a passar 8 dias fora de casa, morando na mesma cidade. Tinha um certo desprazer com Itapetim. Cantando em sua cidade, fazendo dupla com Lourival Batista, queixou-se: “Minha terra me desprezou”. Aí, o poeta genial, Louro, advertiu: - Não maltratas tua terra / Rogaciano sossega / Ela é mãe e tu és filho / Paciência meu colega / Filho que maltrata a mãe / Morrendo o Diabo carrega. Rogaciano, ciente do que disse, arrematou de maneira também genial: - De fato caro colega / Sua razão não se some / O Diabo carrega o filho / Que da mãe manchar o nome/Mas também carrega a mãe / Que mata o filho de fome.
Pinto do Monteiro, o maior de todos até agora, deu o “serviço” do seu aluno, ainda lamentando a sua perda: - Começou junto comigo / Conduzindo uma viola / Cantando em qualquer artigo / Glosando em toda bitola / Andando em toda ribeira / Vivendo de feira em feira / Por São Vicente e Sumé / Prata, Boi Velho e Monteiro / Bom Jesus e São José. (Roteiro de velhos Cantadores e Poetas Populares do Sertão, pg 247.).
Rogaciano Leite ganhou o “Prêmio Esso de Jornalismo, ao escrever matéria sobre: Areia Monazítica, na região do Amazônia. Navegava entre o “popular e o erudito”. Orador de “Mão cheia”. Todavia, quando visitava a sua terra, dava de garra de uma viola, e cantava do mesmo jeito. Ainda houve uma época em que se questionava o fato de ele não ter morrido. E que poderia estar residindo na França, com a sua francesinha, Ane. Comenta-se que o caixão onde estaria o seu corpo, não fora aberto, continuando hermeticamente fechado, até a hora em que o obscuro coveiro lacrou o túmulo com cimento e tijolo. “O Trabalhador”, “Ceará Selvagem”, ainda correm na memória do povo. São trabalhos imortalizados, criados pelo talento inquestionável de Rogaciano Leite, que nasceu com a bênção dos deuses e a proteção do rio feiticeiro do Pajeú.

*ÉSIO RAFAEL é poeta e estudioso de poesia popular.

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 O amor não é racista... ela dizia,
Quando em beijos ardentes me abrasava,
Ao seu peito nervoso me apertava,
Ao meu peito nervoso eu lhe prendia.

Era noite na praia, ninguém via
Aquele par que se beijando estava...
Nos braços do cristão ela sonhava!
E eu sonhava nos braços da judia!

No templo azul daquela noite calma,
Eu lhe dei uma pátria na minh’alma
E ela me deu em sua alma a Canaã...

Desde então o racismo se inverteu!
Vivo pensando que fiquei judeu,
E ela pensando que ficou cristã...

(Soneto de Rogaciano datado de 01/08/1950)"

2 comentários:

Brunno Damasceno disse...

Caro Professor Anchieta, seu blog é mais uma forte contribuição de nós acreanos para a cultura desse Estado, belas poesias, são pessoas assim que transformam esse Estado em um lugar melhor.

Adorei o livro e já estou colocando música naquela poesia maravilhosa que fala do carnaval.

Visite meu blog: http://sambandocombrunno.blogspot.com/

Anônimo disse...

Perche non:)