sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A MORTE E A RESSURREIÇÃO DE DEUS

Enquanto a verdade não se impõe,
Sobra-nos a tortura de conviver,
Em meio à ignorância da fé que é cega,
Num labirinto de mentiras e fantasias,
Curvados diante de um deus cruel.

Se eu fosse Deus...
O Deus maior que todos os deuses,
Soberano e perfeito,
A causa primária de todas as coisas,
O responsável por todas as existências,
Aquele que é "onipotente", "onisciente" e "onipresente",
Reconheceria as imperfeições de minha criação!

Se eu fosse Deus,
Decretaria logo o apocalipse,
Para pôr fim a esse roteiro, há muito anunciado,
de tão extrema e desumana crueldade...
Cumprir-se-iam logo essas tais escrituras e... pronto!

Se eu fosse Deus,
Saberia que os defeitos da arte têm origem no artista!
Então, corrigiria os descuidos que me negassem como Deus,
Faria voltar tudo à estaca zero,
Para reformular o meu projeto...
Jamais permitiria que de minha essência,
Única, pura e perfeita,
Surgissem todas as imperfeições,
Que de forma tão flagrante
Desabonariam meus atributos como um Deus.

Eu vedaria todas as contradições,
Proibiria todas as religiões,
Seria um Deus sem quebra-cabeças
E sem mistérios,
Não permitiria que escrevessem nada sobre mim
E a ninguém seria dado falar em meu nome.
- Eu me mataria como mentira,
Para me fazer nascer como verdade...

Se eu fosse Deus,
Mesmo diante de todos os esplendores da natureza,
Olharia para o ser humano
E me sentiria fracassado como Deus...
Então, talvez mais cômodo me fosse,
No ápice da revolta e do desgosto,
Aspirar em meu ser todo o universo
E mergulhar no niilismo absoluto.

Seria uma tragédia suprema corrigindo outra...
Mas, quem sabe?
- Um verdadeiro Deus surgisse desse novo nada!,
E perfeita fosse a nova criação!

Mas como não sou Deus nem posso sê-lo...
Bendigo o Deus real que mora em mim!

(José de Anchieta Batista)

Um comentário:

Renã Leite Pontes disse...

Anchieta,
Achei teu blog lá na AVBL.
Gostei deste poema
e do "niilismo absoluto".
Abraço.
Renã