terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

OS PECADOS DOS OUTROS

Diante daquela turba que ansiava levar a efeito mais um espetáculo de apedrejamento, Jesus olhou para a pobre mulher e para os homens que a acusavam, e ditou uma das mais sábias sentenças, dentre as tantas que pronunciou durante sua vida terrena: “Aquele que não tiver pecado, atire a primeira pedra”. Ante tão contundente desmascaramento, os algozes daquela criatura indefesa, flagrada no cometimento de um pecado que Moisés carimbara como imperdoável, dispersaram-se e a deixaram em paz.
Esse fato bíblico, tão distantemente vivido e registrado, faz-nos lembrar que todos os dias, embora sobejamente repletos de defeitos, fazemo-nos algozes de nossos semelhantes, muitas vezes naquilo em que somos mais sujos do que eles. Sempre estamos prontos a contribuir com a maceração de alguém. Nossas pedras estão sempre ao alcance das mãos, guardadas na sacola onde escondemos as nossas maldades. 
No trono de hipocrisia que construímos e ocupamos, julgamo-nos perfeitos, enquanto os outros são depósitos recheados de todas as mazelas possíveis e imagináveis. Se somos flagrados em alguma tramoia, e nosso pecado fica patentemente comprovado, não aceitamos que seja um erro. Julgamo-nos violentamente injustiçados, esgoelamo-nos contra o pretenso “absurdo”, e sempre temos ótimas justificativas para qualquer deslize que tenhamos cometido. Mas se algum malfeito foi praticado por outro, muitas vezes em vulto muito menor, não deverá ser perdoado. Exigimos extrema justiça, de preferência em praça pública, e atiramos, sem qualquer misericórdia, a primeira pedra.
Com as lupas da malícia e da maldade é que nos ocupamos em observar os defeitos dos outros; e se a pessoa não os tem, alguém os cria sem qualquer cerimônia. Que importa a honra alheia? O importante é destruir, derrubar ou diminuir o semelhante. Parece existir um prazer libidinoso e sádico em ter o dedo apontado para os demais, numa permanente ânsia por destruí-los ou prejudicá-los.  E às vezes isto é feito sem qualquer barulho, mas com veneno mortal. Hipócritas que somos, damo-nos o mais colorido certificado de perfeição moral. Julgamo-nos perfeitos e nos colocamos no altar da maldita adoração egoística. Não conseguimos enxergar a montanha de nossos tantos erros, mas cuidamos de detalhes insignificantes da vida alheia.
Ah! Este Ser inigualável chamado Jesus Cristo ...  Quanta sabedoria!
A respeito de nosso dedo em riste contra nossos semelhantes, o nosso divino Galileu também nos questionou a todos: "Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão e não se dá conta da viga que está em seu próprio olho? (Mateus 7:3).  Amigos, dificílimo é encontrar, dentre nós, alguém que não conduza em si esta maldita doença.
Voltemos ao episódio da mulher adúltera. Sabe-se que a intenção daqueles homens era mesmo colocar o Cristo numa enrascada:   Ou seria acusado de ser contra os ditames de Moisés, ou se desmoralizaria diante de seus próprios ensinamentos, cujo esteio fundamental era a lei do amor e da misericórdia para com os nossos semelhantes.
Dizem que, ao ser interpelado por aqueles escribas e fariseus, Jesus fitava-os, um por um, e em seguida escrevia na areia os pecados que cada um deles trazia no mais profundo de suas almas.  Conhecedor do íntimo daqueles hipócritas, certamente era possível desnudá-los, virá-los pelo avesso e desmascará-los ali mesmo. Admitidos os milagres descritos nos Evangelhos, é plenamente aceitável que tenha ocorrido também este detalhe prodigioso, o que torna a lição do Grande Mestre enormemente enriquecida.

Hoje, parece que ainda convivemos com a réplica dos hipócritas que acusaram impiedosamente aquela pobre mulher e que tentaram maliciosamente confundir o Cristo. Em muitos e muitos momentos dos dias atuais, inúmeros episódios parecidos com aquele ainda se repetem. Difícil, porém, ou quase impossível, é termos, em algum desses fatos de nosso tempo, o Cristo desmascarando os atualíssimos “escribas e fariseus” que, com as almas emporcalhadas, fingem-se puros, e apontam a sujeira alheia com os dedos sujos de fezes.

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