Diante
daquela turba que ansiava levar a efeito mais um espetáculo de apedrejamento,
Jesus olhou para a pobre mulher e para os homens que a acusavam, e ditou uma das
mais sábias sentenças, dentre as tantas que pronunciou durante sua vida terrena:
“Aquele que não tiver pecado, atire a
primeira pedra”. Ante tão contundente desmascaramento, os algozes daquela
criatura indefesa, flagrada no cometimento de um pecado que Moisés carimbara
como imperdoável, dispersaram-se e a deixaram em paz.
Esse
fato bíblico, tão distantemente vivido e registrado, faz-nos lembrar que todos
os dias, embora sobejamente repletos de defeitos, fazemo-nos algozes de nossos
semelhantes, muitas vezes naquilo em que somos mais sujos do que eles. Sempre estamos prontos a contribuir
com a maceração de alguém. Nossas pedras estão sempre ao alcance das mãos, guardadas
na sacola onde escondemos as nossas maldades.
No
trono de hipocrisia que construímos e ocupamos, julgamo-nos perfeitos, enquanto
os outros são depósitos recheados de todas as mazelas possíveis e imagináveis.
Se somos flagrados em alguma tramoia, e nosso pecado fica patentemente
comprovado, não aceitamos que seja um erro. Julgamo-nos violentamente injustiçados,
esgoelamo-nos contra o pretenso “absurdo”, e sempre temos ótimas justificativas
para qualquer deslize que tenhamos cometido. Mas se algum malfeito foi
praticado por outro, muitas vezes em vulto muito menor, não deverá ser
perdoado. Exigimos extrema justiça, de preferência em praça pública, e atiramos,
sem qualquer misericórdia, a primeira pedra.
Com
as lupas da malícia e da maldade é que nos ocupamos em observar os defeitos dos
outros; e se a pessoa não os tem, alguém os cria sem qualquer cerimônia. Que
importa a honra alheia? O importante é destruir, derrubar ou diminuir o
semelhante. Parece existir um prazer libidinoso e sádico em ter o dedo apontado
para os demais, numa permanente ânsia por destruí-los ou prejudicá-los. E às vezes isto é feito sem qualquer barulho,
mas com veneno mortal. Hipócritas que somos, damo-nos o mais colorido
certificado de perfeição moral. Julgamo-nos perfeitos e nos colocamos no altar
da maldita adoração egoística. Não conseguimos enxergar a montanha de nossos tantos
erros, mas cuidamos de detalhes insignificantes da vida alheia.
Ah!
Este Ser inigualável chamado Jesus Cristo ... Quanta sabedoria!
A
respeito de nosso dedo em riste contra nossos semelhantes, o nosso divino Galileu
também nos questionou a todos: "Por
que você repara no cisco que está no olho do seu irmão e não se dá conta da viga
que está em seu próprio olho? (Mateus 7:3).
Amigos, dificílimo é encontrar, dentre nós, alguém que não conduza em si
esta maldita doença.
Voltemos
ao episódio da mulher adúltera. Sabe-se que a intenção daqueles homens era
mesmo colocar o Cristo numa enrascada: Ou
seria acusado de ser contra os ditames de Moisés, ou se desmoralizaria diante de
seus próprios ensinamentos, cujo esteio fundamental era a lei do amor e da misericórdia
para com os nossos semelhantes.
Dizem
que, ao ser interpelado por aqueles escribas e fariseus, Jesus fitava-os, um
por um, e em seguida escrevia na areia os pecados que cada um deles trazia no
mais profundo de suas almas. Conhecedor
do íntimo daqueles hipócritas, certamente era possível desnudá-los, virá-los
pelo avesso e desmascará-los ali mesmo. Admitidos os milagres descritos nos
Evangelhos, é plenamente aceitável que tenha ocorrido também este detalhe
prodigioso, o que torna a lição do Grande Mestre enormemente enriquecida.
Hoje,
parece que ainda convivemos com a réplica dos hipócritas que acusaram
impiedosamente aquela pobre mulher e que tentaram maliciosamente confundir o
Cristo. Em muitos e muitos momentos dos dias atuais, inúmeros episódios parecidos
com aquele ainda se repetem. Difícil, porém, ou quase impossível, é termos, em
algum desses fatos de nosso tempo, o Cristo desmascarando os atualíssimos
“escribas e fariseus” que, com as almas emporcalhadas, fingem-se puros, e apontam
a sujeira alheia com os dedos sujos de fezes.
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