(*) José de
Anchieta Batista
Há algum tempo, atendi em minha sala do
Acreprevidência um velho senhor, altamente revoltado. Respondeu o meu “bom dia!” com voz de brabeza
e apertou-me a mão com extrema indiferença.
O pessoal da recepção já me informara sobre
seu estado de nervos. O homem não estava para brincadeira.
Em minha sala, pedi-lhe que sentasse,
ofereci-lhe um copo d’água, e solicitei que me contasse seu problema.
- Eu vou ser muito curto e grosso! – iniciou
o cidadão, enquanto retirava do bolso do surrado paletó, um papelzinho com
timbre do Banco do Brasil, em que constava o seu saldo bancário.
E continuou:
- Olhe aqui. Cadê o meu dinheiro? Meteram
a mão no meu salário. Isso é um absurdo. Quero sair daqui com uma solução. Além
do mais, quero lhe dizer que sou um idoso e se eu ficar doente por causa disso
vou processar todo mundo daqui – falou-me de um fôlego só.
- Calma, meu senhor?
- Calma, coisa nenhuma! Basta de tanta
roubalheira! Quero o dinheiro que me levaram, senão vou chamar o 24horas.
Este tipo de ameaça, longe de causar
medo, sempre me traz uma espécie raiva.
- Bem, seu José, deixe eu falar uma
coisinha para o senhor. Aqui não
trabalhamos nem resolvemos problemas, com medo desse tal 24 Horas, nem de
outras coisas desse tipo. Isso não nos amedronta. A regra aqui é tratar bem e
garantir os direitos de todos.
E continuei:
- O senhor é um idoso, mas eu sou um idoso
também. Inclusive sou 7 anos mais velho do que o senhor. Dá para conversarmos
numa boa. Só quero que o senhor faça uma coisa antes de analisarmos o seu
contracheque: vou chamar minha advogada para o senhor assinar a acusação de que
foi roubado pelo Acreprevidência.
No mesmo instante o homem levantou-se,
passou a mão na cabeça e tentou desdizer tudo o que tinha antes afirmado.
- Não, doutor Anchieta! Não se trata
disso. É porque eu fiquei nervoso. A gente exagera sem querer e fala besteira.
Desculpe-me! – disse-me com voz humilde.
O Departamento de Manutenção de
Benefícios analisou para ele os detalhes do contracheque. O velho houvera
utilizado toda sua margem consignável. Entre mil pedidos de desculpas, saiu
dali cabisbaixo, mas plenamente convencido de que o erro era totalmente dele.
Contei essa historinha para realçar algo
altamente nocivo a nossa gente. Vejam bem a ameaça que foi feita. O velho
senhor não me ameaçou de queixar-se ao Governador, nem de procurar o Ministério
Público, nem de registrar o fato na Polícia, nem de procurar um advogado. Quis
amedrontar-me com o tal “24 Horas”. Quis apavorar-me do mesmo jeito que me
faziam quando criança: - “Vou chamar o Bicho-Papão!”
Amigos, isso está muito em voga aqui em
nosso Estado. No presente caso, ficou só na ameaça, mas o gestor público pode
ter seu nome exposto à execração por qualquer motivo, sem prévio direito de
defesa, simplesmente porque tais chamados são atendidos e feitas publicações
irresponsáveis. Depois, como limpar o nome pessoal e o da instituição? Difícil,
minha gente, porque o estrago já estará feito. E cada um que se vire para
provar a inocência, mostrar a versão correta e também defender a órgão público
que dirige.
Há algum tempo, esse mesmo “24 Horas” publicou
levianamente que eu havia concedido uma aposentadoria graciosa. Diante da
nojenta mentira, obtive no Judiciário o mais absoluto sucesso. E fiquem certos
de que irei aos tribunais mil vezes se preciso. Não deixarei nada de graça, nem
me amedrontarei. Assim devem proceder todos os cidadãos, principalmente os mais
visados, aqueles que estão à frente da administração pública. Em sã consciência, quero aqui registrar que o
trabalho da imprensa deve ser ardorosamente defendido por todos, e que sou
absolutamente contra quem quer que seja coibir a divulgação dos fatos ocorridos
no nosso cotidiano. Meu foco é nesses maléficos instrumentos on-line que, pelo
menos, aqui no Acre, se dizem jornais, mas que servem para aterrorizar e sujar
a honra das pessoas e plantar a desmoralização das instituições. Isso pode ser
tudo, menos jornalismo, porque prestam um enorme desserviço à Sociedade. É que isso
também incentiva pessoas, principalmente as mais ignorantes, a buscarem
direitos inexistentes, inverterem versão dos fatos, acusarem inocentes, etc.
Ultimamente, na busca de atingir o
Governo, todos os olhos maus dessa gente voltaram-se para a Maternidade Bárbara
Heliodora. Ali trabalham, comprovadamente, pessoas altamente responsáveis, competentes e comprometidas com o sacerdócio que abraçaram. Isso, porém, não basta. É preciso
fomentar a tragédia, revoltar a sociedade e principalmente os familiares, com
notícias levianas. É preciso aproveitar algum momento de dor. O caos é
necessário para tentar desequilibrar o Governo. Brincam então com os
sentimentos das pessoas. Citemos os casos de dois natimortos, oriundos de Santa
Rosa do Purus e de Capixaba. Em ambos os casos a dedicação da equipe de
profissionais foi elogiável. Uma das mães estava com o feto já morto em seu
ventre, há dois dias, contudo conseguiu ser salva. A família é hoje altamente
agradecida a todos por isso. Mas os fatos foram transformados em um prato cheio
para notícias recheadas de toda maldade possível.
Lembremos também a foto de manchas de
sangue num suposto banheiro da Maternidade. O acolhimento do hospital teria
sido tão desumano que a criança nascera sem qualquer acompanhamento. Depois do
grande sensacionalismo, irresponsável e mentiroso, apurou-se na internet que o
ambiente e as manchas vermelhas da foto se referiam a uma cena de teatro, no
Estado do Maranhão.
Enquanto
isso, os profissionais, em vez de estarem cuidando de suas nobres atividades,
com a serenidade que o ofício exige, passam a trabalhar num clima de medo, para
não serem vitimados pela calúnia e pela difamação. Isso gera uma insegurança
que é nociva a todos. Suas vidas são afetadas enormemente. Passam a ter mais
uma obrigação: - defenderem-se de forjados crimes a eles atribuídos.
Amigos, hoje são incontáveis as páginas escritas
na internet, e que se autodenominam “jornais”. No Acre, excetuados alguns poucos
periódicos produzidos com lisura, existem os que chegam a dificultar a
identificação dos verdadeiros responsáveis. Há uma terceirização da
responsabilidade. Eu, porém, sempre vi no anonimato um ato de covardia.
Foquei o “24 horas”, por causa da ameaça
feita pelo idoso a que me referi no início desta crônica, e também por conta da
maldade que já me praticaram.
Saibam também – e que fique bem claro - que seria grande insensatez minha querer que
as notícias que me desagradam sejam silenciadas. Nunca! Mas quero que elas venham
ao mundo com responsabilidade, quero a verdade, nada mais que isso.
Ah! Ia-me esquecendo:
- Não leio esses pasquins, sabem por quê?
Porque não tenho tempo para a prática do mau gosto. Mas quando neles houver algo
que me afete, com certeza alguém me avisará. Então, chamarei o meu Bicho-Papão.
(*) Caminheiro do Tempo e do Espaço
... e não sei mais o quê.
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