terça-feira, 14 de junho de 2016

EU CHAMO O BICHO-PAPÃO P’RA TE PEGAR!

(*) José de Anchieta Batista
Há algum tempo, atendi em minha sala do Acreprevidência um velho senhor, altamente revoltado.  Respondeu o meu “bom dia!” com voz de brabeza e apertou-me a mão com extrema indiferença.
O pessoal da recepção já me informara sobre seu estado de nervos. O homem não estava para brincadeira.
Em minha sala, pedi-lhe que sentasse, ofereci-lhe um copo d’água, e solicitei que me contasse seu problema.
- Eu vou ser muito curto e grosso! – iniciou o cidadão, enquanto retirava do bolso do surrado paletó, um papelzinho com timbre do Banco do Brasil, em que constava o seu saldo bancário.
E continuou:
- Olhe aqui. Cadê o meu dinheiro? Meteram a mão no meu salário. Isso é um absurdo. Quero sair daqui com uma solução. Além do mais, quero lhe dizer que sou um idoso e se eu ficar doente por causa disso vou processar todo mundo daqui – falou-me de um fôlego só.
- Calma, meu senhor?
- Calma, coisa nenhuma! Basta de tanta roubalheira! Quero o dinheiro que me levaram, senão vou chamar o 24horas.
Este tipo de ameaça, longe de causar medo, sempre me traz uma espécie raiva.
- Bem, seu José, deixe eu falar uma coisinha para o senhor.  Aqui não trabalhamos nem resolvemos problemas, com medo desse tal 24 Horas, nem de outras coisas desse tipo. Isso não nos amedronta. A regra aqui é tratar bem e garantir os direitos de todos.
E continuei:
- O senhor é um idoso, mas eu sou um idoso também. Inclusive sou 7 anos mais velho do que o senhor. Dá para conversarmos numa boa. Só quero que o senhor faça uma coisa antes de analisarmos o seu contracheque: vou chamar minha advogada para o senhor assinar a acusação de que foi roubado pelo Acreprevidência.
No mesmo instante o homem levantou-se, passou a mão na cabeça e tentou desdizer tudo o que tinha antes afirmado.
- Não, doutor Anchieta! Não se trata disso. É porque eu fiquei nervoso. A gente exagera sem querer e fala besteira. Desculpe-me! – disse-me com voz humilde.
O Departamento de Manutenção de Benefícios analisou para ele os detalhes do contracheque. O velho houvera utilizado toda sua margem consignável. Entre mil pedidos de desculpas, saiu dali cabisbaixo, mas plenamente convencido de que o erro era totalmente dele.
Contei essa historinha para realçar algo altamente nocivo a nossa gente. Vejam bem a ameaça que foi feita. O velho senhor não me ameaçou de queixar-se ao Governador, nem de procurar o Ministério Público, nem de registrar o fato na Polícia, nem de procurar um advogado. Quis amedrontar-me com o tal “24 Horas”. Quis apavorar-me do mesmo jeito que me faziam quando criança: - “Vou chamar o Bicho-Papão!”
Amigos, isso está muito em voga aqui em nosso Estado. No presente caso, ficou só na ameaça, mas o gestor público pode ter seu nome exposto à execração por qualquer motivo, sem prévio direito de defesa, simplesmente porque tais chamados são atendidos e feitas publicações irresponsáveis. Depois, como limpar o nome pessoal e o da instituição? Difícil, minha gente, porque o estrago já estará feito. E cada um que se vire para provar a inocência, mostrar a versão correta e também defender a órgão público que dirige.
Há algum tempo, esse mesmo “24 Horas” publicou levianamente que eu havia concedido uma aposentadoria graciosa. Diante da nojenta mentira, obtive no Judiciário o mais absoluto sucesso. E fiquem certos de que irei aos tribunais mil vezes se preciso. Não deixarei nada de graça, nem me amedrontarei. Assim devem proceder todos os cidadãos, principalmente os mais visados, aqueles que estão à frente da administração pública.  Em sã consciência, quero aqui registrar que o trabalho da imprensa deve ser ardorosamente defendido por todos, e que sou absolutamente contra quem quer que seja coibir a divulgação dos fatos ocorridos no nosso cotidiano. Meu foco é nesses maléficos instrumentos on-line que, pelo menos, aqui no Acre, se dizem jornais, mas que servem para aterrorizar e sujar a honra das pessoas e plantar a desmoralização das instituições. Isso pode ser tudo, menos jornalismo, porque prestam um enorme desserviço à Sociedade. É que isso também incentiva pessoas, principalmente as mais ignorantes, a buscarem direitos inexistentes, inverterem versão dos fatos, acusarem inocentes, etc.
Ultimamente, na busca de atingir o Governo, todos os olhos maus dessa gente voltaram-se para a Maternidade Bárbara Heliodora. Ali trabalham, comprovadamente, pessoas altamente responsáveis, competentes e comprometidas com o sacerdócio que abraçaram. Isso, porém, não basta. É preciso fomentar a tragédia, revoltar a sociedade e principalmente os familiares, com notícias levianas. É preciso aproveitar algum momento de dor. O caos é necessário para tentar desequilibrar o Governo. Brincam então com os sentimentos das pessoas. Citemos os casos de dois natimortos, oriundos de Santa Rosa do Purus e de Capixaba. Em ambos os casos a dedicação da equipe de profissionais foi elogiável. Uma das mães estava com o feto já morto em seu ventre, há dois dias, contudo conseguiu ser salva. A família é hoje altamente agradecida a todos por isso. Mas os fatos foram transformados em um prato cheio para notícias recheadas de toda maldade possível. 
Lembremos também a foto de manchas de sangue num suposto banheiro da Maternidade. O acolhimento do hospital teria sido tão desumano que a criança nascera sem qualquer acompanhamento. Depois do grande sensacionalismo, irresponsável e mentiroso, apurou-se na internet que o ambiente e as manchas vermelhas da foto se referiam a uma cena de teatro, no Estado do Maranhão.
 Enquanto isso, os profissionais, em vez de estarem cuidando de suas nobres atividades, com a serenidade que o ofício exige, passam a trabalhar num clima de medo, para não serem vitimados pela calúnia e pela difamação. Isso gera uma insegurança que é nociva a todos. Suas vidas são afetadas enormemente. Passam a ter mais uma obrigação: - defenderem-se de forjados crimes a eles atribuídos.
Amigos, hoje são incontáveis as páginas escritas na internet, e que se autodenominam “jornais”. No Acre, excetuados alguns poucos periódicos produzidos com lisura, existem os que chegam a dificultar a identificação dos verdadeiros responsáveis. Há uma terceirização da responsabilidade. Eu, porém, sempre vi no anonimato um ato de covardia.
Foquei o “24 horas”, por causa da ameaça feita pelo idoso a que me referi no início desta crônica, e também por conta da maldade que já me praticaram.
Saibam também – e que fique bem claro -  que seria grande insensatez minha querer que as notícias que me desagradam sejam silenciadas. Nunca! Mas quero que elas venham ao mundo com responsabilidade, quero a verdade, nada mais que isso.
Ah! Ia-me esquecendo:
- Não leio esses pasquins, sabem por quê? Porque não tenho tempo para a prática do mau gosto. Mas quando neles houver algo que me afete, com certeza alguém me avisará.  Então, chamarei o meu Bicho-Papão.
(*) Caminheiro do Tempo e do Espaço ... e não sei mais o quê. 

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