sábado, 29 de outubro de 2016

PRANTOS POR UMA MERETRIZ

(*) José de Anchieta Batista

Disseram-me agora
Que Leda Maria
Morreu num bordel,
Em meio à imundície...
E esta notícia
Soou-me cruel.

Mergulho no longe
De tempos distantes...
Fagulhas de instantes
Me vêm do passado...
E Leda Maria,
Em minha lembrança,
Revejo criança...

Ninguém, com certeza,
Lá na redondeza,
Mais bela que ela
Jamais conheceu.
- Primeira paixão...
- Primeira ilusão...
- Primeiro amor meu...

Um dia embriaguei-me
No olor dessa flor...
Bebi de seu beijo
O virgíneo sabor...
E nós nos amamos,
E nós dois pecamos,
Se é que é pecado
Pecar por amor.

- Que houve depois?

- A sórdida sina
Pra longe a levou...
A vida, que é treda,
Roubou minha Leda...
E em Leda Maria
Não mais se falou...

O expresso da vida
Deixou-a pra trás...
E Leda Maria
Não vi nunca mais.

Cumpri pela vida
Meu torpe destino,
Aos poucos, morrendo,
Doendo no peito
Meu sonho desfeito
Ainda menino.

Disseram-me agora
Que Leda Maria
Morreu num bordel,
Em meio à imundície...
E esta notícia
Soou-me cruel.

Se ainda a amava?
- Não sei! Eu não sei!
Não foi só por pena
De Leda Maria
Que hoje eu chorei! 
*****

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