(*) José de Anchieta Batista
Para
submeter Jesus ao que chamamos de beco sem saída, os fariseus e herodianos planejaram
dirigir-lhe uma ardilosa pergunta. Fosse qual fosse sua resposta, ficaria exposto a uma verdadeira encrenca. E assim o
interpelaram:
-
Mestre, é justo pagar impostos ao imperador romano?
E
a sábia resposta não só silenciou seus interlocutores, como trouxe também ao
mundo uma expressão, por ele pronunciada com divina autoridade, e que se consagrou
como um princípio geral de vida, uma espécie de mandamento da boa convivência e
um caminho para a prática da justiça.
Aqueles
hipócritas ouviram, então, do Grande Mestre, a celebérrima sentença:
-
“Dai a César o que é de César, e a Deus o
que é de Deus”.
Imagino
os semblantes surpresados e confusos dos que ouviram aquilo. A lição certamente
os deixou sem novas interpelações, e eles devem ter retornado muito desconfiados
para junto daqueles que os mandaram fazer a provocação.
Naquela
inesperada resposta, certamente inexiste qualquer atitude de covardia. Jesus
nunca procedeu como um covarde. Agiu ali com sábia precaução, para não precipitar
contra si, nem o ódio dos opressores, nem o repúdio de seus conterrâneos, já tão
massacrados pela usurpação de tais tributos. O grande Enviado de Deus sabia que
não era ainda chegado seu momento e, diante daquela cilada, fez valer sua
divina sabedoria.
Os
homens daquela época deram a Cesar quase tudo, porque quase tudo era de Cesar
e, a Deus, quase nada, porque quase nada se destinava a Deus. Daquilo tudo
sobrou um Cristo submetido aos poderes que vinham de César, ali representado
por Pôncio Pilatos, cuja histórica atitude foi lavar as mãos, antes de
entregá-lo à turba para a crucificação. Foi assim que aqueles homens maldosos e
ignorantes fizeram retornar a Deus o que era realmente de Deus: seu Filho Maior.
De
tudo aquilo, evidenciamos uma certeza, e também uma lição, para os que hoje têm
“os olhos de ver”: Os religiosos, mancomunados com o poder da
época, mataram o Cristo impiedosamente.
Meus
amigos, acho que não podemos mesmo misturar Estado e Religião. Isso está previsto
na Carta Magna brasileira, mas é bem diferente o que acontece no mundo real. Sub-repticiamente
essa mistura está selada e acontecendo claramente.
Temos
no Brasil pessoas que alcançam, sabe Deus de que forma, a liderança religiosa
numa comunidade e, depois, encontram ali uma forma de ocupar um assento em
algum nível de poder do mundo. Seus eleitores são geralmente os humildes encabrestados
pelo horrível temor do fogo do Inferno. Eleitos, os políticos de “vida sacrossanta”,
os autoproclamados “profetas”, abandonam de vez o púlpito eclesial, para
ocuparem alguma tribuna dos parlamentos, ou mesmo alguma cadeira executiva. A
corrida para isso tem sido tão crescente que o domínio do pensamento religioso
está se instalando em todos os plenários, fazendo totalmente tendenciosas as propostas
ali discutidas e votadas, com deturpação do que vem a ser um estado laico. Desta
forma, a laicidade prevista e pregada nos nossos códigos de leis, simplesmente
não existe. Os religiosos têm-se juntado a outros poderosos de todos os tipos, e
vão assumindo de forma rápida os destinos do estado brasileiro. Neste contexto,
os adeptos das milhares de denominações de igrejas, não são meramente ovelhas
da fé. Trazem consigo a condição de fiéis eleitores. E o Estado laico, pela maneira
como as coisas têm acontecido, fica só na letra morta.
Custa-me
crer que Jesus, ao relembrar os fatos de seu tempo, e o ritual de que foi
vítima, concorde com tudo isso que hoje se repete. É
muito nítida e verdadeira a assertiva de que não dá para misturar as coisas de
Cesar com as coisas de Deus. E é justamente isso que acontece quando alguém que
se diz arrebanhador de almas se alia à ambição do poder político. Essa mistura nunca
vai dar certo. Em minha forma de ver, ou o sujeito é um zeloso pastor de almas
ou se entrega aos afazeres da política. Esses dois mundos são incompatíveis na
mesma pessoa.
Defendo
como salutar que aqueles que cuidam dos “caminhos do céu” dentro da sociedade, tenham
atitudes críticas em defesa da moral e da ética por parte dos governos
estabelecidos. Também defendo que exerçam uma constante cobrança na execução de
políticas voltadas realmente para o povo, principalmente para os menos
favorecidos. Mas se querem participar diretamente do mundo da política,
transfiram o cajado para outros, e não usem a submissão psicológica dos membros
da igreja para subirem os degraus dos poderes do mundo. A César o que é de
César, e a Deus o que é de Deus!
Padres,
pastores, missionários, ou como sejam chamados, acordem! A missão dos senhores
é cuidar de seus rebanhos; é orientar, amparar e zelar pelas virtudes daqueles
que buscam Deus; é mostrar caminhos; é exercitar e fomentar a prática do bem e do
amor ao próximo, porque estas são genuinamente coisas de Deus. Deixem que os
Césares cuidem da política. Compreendam isso!
Finalizo
com outra sentença, também proclamada pelo próprio Cristo:
-
“ NINGUÉM PODE SERVIR A DOIS SENHORES! ”
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