sábado, 15 de outubro de 2016

MEU CONTERRÂNEO ZÉ DA LUZ E SUA POESIA.

ZÉ DA LUZ – assim foi chamado Severino de Andrade Silva, imortal poeta nordestino, nascido em Itabaiana, agreste paraibano, no dia 29 de março de 1904. Era alfaiate de profissão, mas brilhou realmente com seus eternizados versos matutos, em que retratava, com fidelidade, a alma dos rincões nordestinos. Faleceu no dia 12 de fevereiro de 1965, no Rio de Janeiro, cidade onde vivera desde 1951.
Não se pode falar de poetas nordestinos, sem incluir um espaço reservado ao grande Zé da Luz. Seu livro “BRASIL CABOCLO” (1936) foi prefaciado por nada menos que José Lins do Rego. E o autor de “Menino de Engenho” assim inicia seu Prefácio:
- “Pediu-me Zé da Luz um prefácio para o seu livro de versos. E eu lhe disse: Meu caro poeta, você não precisa de prefácios, porque a sua poesia fala com mais autoridade que qualquer palavra de apresentação. Que autoridade terei para dar carta de fiança a quem possui os melhores tesouros deste mundo? Ora, Zé da Luz, você vale pelo que é, e não pelo que se possa dizer de você. (...).

Grande Zé da Luz!

Preencho hoje meu humilde espaço, com uma pequena mostra de suas poesias, decerto já conhecidas de muita gente:

A CACIMBA

 Tá vendo aquela cacimba
Lá na bêra do riacho,
Im riba da ribancêra,
Qui fica, assim, pru dibaxo
De um pé de tamarinêra?
Pois, um magote de môça
Quage toda menhanzinha,
Foima, assim, aquela tuia,
Na bêra da cacimbinha
Tomando banho de cuia!
Eu não sei pru quê razão,
As águas dessa nacente,
As águas qui alí se vê,
Tem um gosto deferente
Das cacimba de bêbê…
As águas da cacimbinha
Tem um gôsto mais mió.
Nem sargada, nem insôça…
Tem um gostim do suó
Dos suvaco déssas môça…
Quando eu vejo essa cacimba,
Qui inspio a minha cara
E a cara torno a inspiá,
Naquelas águas quilara,
Pego logo a desejá…
…Desejo, pra que negá?
Desejo sê um caçote,
Cum dois óio desse tamanho!
Pra vê, aquele magóte
De môça tumando banho!

*****
AS FLÔ DE PUXINANÃ

Três muié ou três irmã,
Três cachôrra da mulesta,
Eu vi num dia de festa,
no lugar Puxinanã.
A mais véia, a mais ribusta
Era mermo uma tentação!
Mimosa flô do sertão
Que o povo chamava Ogusta.
A sigunda, a Guléimina,
Tinha uns ói qui ô! mardição!
Matava quarqué critão
Os oiá déssa minina.
Os ói dela paricia
Duas istrêla tremendo,
Se apagando e se acendendo
Im noite de ventania.
A tercêra, era Maroca.
Cum um côipo muito má feito,
Mas porém, tinha nos peito
Dois cuscús de mandioca.
Dois cuscús, qui, prú capricho,
Quando ela passou pru eu,
Minhas venta se acendeu
Cum o chêro vindo dos bicho.
Eu inté, me atrapaiava,
Sem sabê das três irmã
Qui eu vi im Puxinanã,
Quá era a qui mi agradava...
Inscuiendo a minha cruz
Prá sair desse imbaraço,
Desejei morrê nos braços,
Da dona dos dois cuscús!

*****
 AI! SE SÊSSE!...

Se um dia nós se gostasse;
Se um dia nós se queresse;
Se nós dois se impariásse,
Se juntinho nós dois vivesse!
Se juntinho nós dois morasse
Se juntinho nós dois drumisse;
Se juntinho nós dois morresse!
Se pro céu nós assubisse!?
Mas porém, se acontecesse
Qui São Pêdo não abrisse
As portas do céu e fosse,
Te dizê quarqué toulíce?
E se eu me arriminasse
E tu cum eu insistisse,
Prá qui eu me arrezorvesse
E a minha faca puxasse,
E o buxo do céu furasse?...
Tarvez qui nós dois ficasse
tarvez qui nós dois caísse
E o céu furado arriasse
E as virge tôdas fugisse!!!

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