Hoje acordei pensando em Deus. Não sei
por quê. Afinal, Deus é um ser que não me preocupa. Cada um o concebe da forma
como pode alcançá-lo. Não me interessa o que pensem de mim por causa disso. Se
me julgam herege, ateu, amigo dos capetas, ou condenado ao Inferno, nada me
abala. Mesmo assim, saibam que, mesmo descrente nos deuses impostos pelas
religiões, não sou ateu. Creio em um Poder Superior, do jeito que pude
compreendê-lo, e tenho minha forma personalíssima de com Ele me relacionar.
Volto no tempo. Lembro-me da primeira
recitação que fiz em um evento público, no seminário onde eu estudava. Foi uma semana inteirinha de preparação para o
Dia das Mães. Os padres eram – como ainda hoje o são - muito caprichosos.
Coral, monólogos, esquetes, poesias etc., tudo tinha que estar na ponta da
língua e muito bem ensaiado em todos os detalhes. Afinal, teríamos presenças
importantíssimas, como Dom Zacarias, os padres da diocese, as freiras e as
alunas do Colégio N. S. de Lourdes, além das famílias dos seminaristas. Muitas mães lá estariam. Dona América,
contudo, morava longe e, pelas poucas posses, claro que não poderia estar lá.
Coube-me recitar o poema “Deus”, de
Casimiro de Abreu. Doze versos, em três estrofes, que me fizeram perder o sono
naquelas noites que precederam o grande momento. Vamos aqui transcrevê-los,
mesmo na certeza de que quase todos os conhecem e talvez já os tenham também
recitado em criança:
DEUS
Eu me lembro! Eu me lembro! -
Era pequeno
E brincava na praia; o mar
bramia
E, erguendo o dorso altivo,
sacudia
A branca escuma para o céu
sereno.
E eu disse a minha mãe nesse momento:
“Que dura orquestra! Que furor
insano!
“Que pode haver maior do que o
oceano,
“Ou que seja mais forte do que o
vento?!” -
Minha mãe a sorrir olhou p’r’os
céus
E respondeu: - “Um Ser que nós
não vemos
“É maior do que o mar que nós
tememos,
“Mais forte que o tufão! Meu
filho, é Deus! ”
Parece que me saí até bem. Pelo menos, bateram
palmas e muitos dos presentes, inclusive o Senhor Bispo, deram-me os parabéns.
Lembro hoje aquele momento com certa
saudade, mas minha intenção aqui, é mesmo outra. Quero afirmar que ninguém é
obrigado a acreditar em Deus. Também é absurdo que queiramos que os outros o
concebam da mesma forma como nós o concebemos. A grande maioria das religiões, cada uma a seu
modo, se propõem fazer isso, mas utilizando-se do terror de um Inferno eterno
após esta vida. Isso nada me vale, porque, hoje, creio convictamente na
reencarnação, embora respeite aqueles que não a admitem.
Volto à mensagem do poema, para reforçar
o óbvio. Seria sem sentido acreditar num Deus que não fosse Todo Poderoso. Dessa
forma, o jovem poeta Casimiro de Abreu, falecido aos vinte e três anos, traduziu
isso, mediante extraordinários fenômenos da Natureza.
Minha infância se foi. Vivi, pela vida
afora, perguntando-me como seria realmente este Ser que chamamos de Deus. Nunca
me veio uma resposta convincente, nem da Teologia, nem das religiões, nem dos
livros, nem dos sacerdotes, nem das diversas filosofias, porque nesses espaços Ele
é muito pequeno e imperfeito, na forma como é visto e traduzido.
Concluo afirmando que a
melhor forma de concebermos esse Deus indefinível é nos sentirmos, cem por
cento, parte integrante da Natureza, e mergulharmos no mais profundo de nosso
ser, rebelando-nos contra as ilusões e mentiras que insistem em nos impor. Deus
está vivíssimo na Natureza! Deus está
vivíssimo em nós! Lembremo-nos de que nós também somos deuses!
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