domingo, 17 de dezembro de 2017

MOMENTO DE DESENCANTO - (Anchieta Batista)

Vivemos hoje perdidos
Sob o domínio do mal,
Um sofrer descomunal,
Um desencanto profundo...
Só restou a insensatez,
O desamor, a inclemência,
A guerra, a dor, a violência,
Tomando conta do mundo...
.
Poluindo e destruindo
Rios, pântanos e mares,
Desde as calotas polares
A chegar na estratosfera...
Matando a flora e a fauna
E seu próprio semelhante,
O homem é, neste instante,
Um louco, um traste, uma fera.
.
Quem devia dar exemplo,
Usurpa o ouro do trono...
E o povo no abandono,
Sem ter circo e sem ter pão...
E esta maldita sujeira
Vem também manchar a toga
E a gente sente que a droga
Quer destruir a Nação.
.
Sem uma metralhadora,
Canhão, pistola ou fuzil,
Nas grotas deste Brasil,
Tento esconder-me ou fugir...
Mas de repente descubro
Que hoje sou prisioneiro
E nem mesmo no estrangeiro
Eu tenho pra onde ir.
.
Como lutar? Vou-me embora!
Vou-me embrenhar na caatinga...
E não me façam mandinga
Pedindo p´ra eu ficar...
Com desdita ou sem desdita,
Mesmo com sede ou com fome,
Não chamem mais por meu nome,
Pois eu não quero voltar.
.
Talvez até que eu me arrisque
Sumir por alguma estrada,
Sem despedir-me de nada,
Sem dar adeus p´ra ninguém...
Montado num burro brabo
Dos que dão coice no vento,
Sem lenço e sem documento
E sem destino também.
.
Sem portar identidade
Nem também um telefone,
Vou passear num ciclone
Por este espaço sem fim...
Sem um rumo definido,
Sem pousada ou endereço
Esqueçam todo o apreço
Que já tiveram por mim...
.
Nunca me vi tão cansado,
Tão assim desiludido,
Acabrunhado e perdido,
Olhando um mundo sem jeito...
É triste a realidade,
Que minha mente hoje alcança,
Mas espero que a esperança
Volte a morar no meu peito.
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