José de Anchieta
Batista
Sobre o transcorrer
da vida, creiam os mais novos: tudo passa num relâmpago. Anteontem eu era um
menino... ontem eu era um jovem cheio de vida... hoje sou um idoso buscando
viver.
Tentar não se ver, e também
não ser visto, como uma enxada velha e carcomida, lá num recanto de parede, é
bem difícil. Estou reagindo a isto. E é mais que necessário reagir. É um ato de
sobrevivência na prorrogação da vida por mais algum tempo. A velhice tem uma
espécie de ferrugem que finda nos levando a uma depreciação pouco remediável. Se
nos conformamos com isto e não nos valemos de algum anticorrosivo, bem mais
ligeiro chega, a nossa porta, aquele automovelzinho tenebroso, com enfeites em
cor lilás, pertencente a alguma casa funerária.
É, meus amigos. Vamos
viver! Estrebuchemos! Lutemos e vivamos, embora algum dia o fatídico momento tenha
que acontecer. É inexorável. Não adianta choramingar. De repente aquela maldita
“carrocinha” parará defronte nossa casa, nos recolherá como uma encomenda, nos
levará num cortejo para habitar um bairro macabro onde ninguém quer morar.
Superficialmente é isto, embora exista, para mim, algo maior acontecendo
paralelamente.
Refletir sobre estas
coisas é como algo que sempre nos faz desmoronar. A certeza é absoluta, mas
todos fugimos dela. É que ninguém
consegue se preparar para receber a inevitável, porém sempre indesejada visita.
De minha parte estou
tentando amenizar este encontro.
Hoje iniciei o dia
relendo e mastigando o que nos diz o nosso querido e extraordinário Mário
Quintana, sobre o lapso da vida:
SEISCENTOS E SESSENTA
E SEIS (O TEMPO)
Mário Quintana
A
vida é uns deveres que nós trouxemos
para
fazer em casa.
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo…
Quando se vê, já é 6ª-feira…
Quando se vê, passaram 60 anos…
Agora, é tarde demais para ser reprovado…
E se me dessem – um dia – uma outra
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo…
Quando se vê, já é 6ª-feira…
Quando se vê, passaram 60 anos…
Agora, é tarde demais para ser reprovado…
E se me dessem – um dia – uma outra
oportunidade,
eu
nem olhava o relógio
seguia sempre, sempre em frente…
seguia sempre, sempre em frente…
E iria jogando pelo
caminho a casca dourada e inútil das horas.
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