segunda-feira, 28 de maio de 2018

O SEXO É DIVINO


José de Anchieta Batista
Estou no septuagésimo terceiro degrau de minha atual passagem pelo planeta Terra. Neste estágio da travessia, há um sentimento de estar vivendo num compartimento separado dos demais. Falo assim, mas não me imaginem um velho rabugento, resmungão e recantado. É que, nestes momentos da vida, passamos a apreciar um certo tipo de solidão, que não sabemos descrever. Isso porque, como idosos, nossa ocupação predileta é pensar, é avaliar a trajetória percorrida, é amargar arrependimentos que não levam a lugar nenhum, já que a roda do tempo não gira para trás. As celebrações referentes ao passado quase não existem. Neste crepúsculo vespertino da vida, descobrimos que ainda não sabemos quem somos. Parece até que perdemos todo nosso viver numa construção sem sentido.
Nessas malucas lucubrações da velhice, surgiu-me, num desses dias, súbito questionamento de como seria a humanidade, se quem a inventou não houvesse nos ofertado as maravilhas e o poder do sexo. E de imediato brotou-me a resposta. Ora, sem uma forma de reprodução da espécie, com certeza a humanidade teria se resumido às mitológicas figuras de Adão e Eva. Mas não foi bem assim. O Criador de tudo isso determinou aos dois primitivos humanos “crescei e multiplicai-vos!”, numa clara ordem para que não parassem de produzir novas criaturas semelhantes, a fim de ocuparem todo o planeta Terra. Para tanto, o casal original não teve a menor dificuldade em identificar e usar os instrumentos desse trabalho. De imediato descobriram quão maravilhoso era aquilo. E o que era apenas para fabricar mais gente, transformou-se no divertimento mais esplendoroso da vida. E o “mexe-mexe”, além de ser a maior e insuperável diversão humana, tornou-se responsável por essa confusão desenfreada que é o mundo. Em todo recanto, só se pensa “naquilo”.
Não sei se é plenamente correta a informação, mas o professor Google me disse que a média de duração do orgasmo masculino é de três a cinco segundos e o feminino chega a atingir dez. Parabéns ás mulheres, pela generosidade do Criador, ofertando-lhes um gozo muito mais longo do que temos nós, os machos. Maravilha, queridas.
O tão esplendoroso ato sexual, que para mim é o encontro mais profundo de duas almas, divido-o, na minha maneira rude e brincalhona de ser, em dois estágios: os “prolegômenos” e os “finalmentes”. Este último é como se fosse a batalha final, que culmina com o êxtase indescritível do orgasmo.
Neste ponto de minha grosseira análise,  surge-me outro questionamento: E se houvesse o sexo, mas não existisse o orgasmo, para coroar os “finalmentes”, como seria cumprida a ordem dada por Deus?  Ah, ninguém se iluda. Sem a fome que atraem os corpos, sem o fogo ardente da volúpia, sem a explosão do orgasmo, isso que chamamos vulgarmente de “gozo”, ninguém iria perder tempo de estar agarrado por aí, se lambuzando um no outro, sem chegar a lugar nenhum. A multiplicação também estaria comprometida e, dessa forma, a Terra estaria hoje vazia.
Admito como verdade que se o Criador nos fez com sexo, aquele que o repudia está contra Deus. Foi feito para ser usado, evidentemente dentro de princípios saudáveis apontados pela razão. Claro que o mau uso, os abusos, as violências, as práticas doentias que estão em nosso cotidiano, não são aceitáveis. São anomalias. A luz vermelha tem que estar sempre acesa, pois manter-se em plena normalidade racional é bem difícil. O sexo é poderoso, enlouquece, mexe com tudo em nosso corpo, desequilibra, leva-nos a insensatez. Isso tudo, em busca daqueles três segundinhos de extremo êxtase que vêm coroar o ritual dos prolegômenos.
Mas o que é normal no sexo? Tudo! Desde que se respeite o que verdadeiramente tem que ser respeitado, principalmente o outro. E o resto é o resto.
Certa vez um sujeito que se dizia “profeta e homem de Deus”, me disse que um casal deve fazer sexo sem volúpia, sem lascívia, sem excesso de sensualidade. Era pecado. Quase mando o falso moralista à merda. O autêntico imbecil não soube me dizer como é possível fazer isso.
Vem do ser humano, em meio a tantas maravilhas que o Criador nos ofertou, fazer o belo ficar feio, mudar as cores da vida, colocar no que é puro os trajes do pecado, transformar as dádivas sagradas em instrumentos de infelicidade.
Meus amigos, fico por aqui.
Sequer sei porque hoje falei sobre esse lado saboroso da vida. Não estranhem, pois na velhice também se pensa naquilo. Ademais, além de este combatente ainda não estar vencido, morto e enterrado, carrega saborosíssimas reminiscências... e sei que já fui muito bom nisso!
Finalmente, não se esqueçam de que, em tudo o que acima abordei, a presença do amor é o ingrediente mais fabuloso para que a plenitude seja atingida.
O sexo é divino, minha gente!

Um comentário:

DASLAN MELO LIMA disse...

"Na velhice também se pensa naquilo."
Amém!
Um abraço, direto do Nordeste ensolarado.
Daslan Melo Lima
Timbaúba, PE