sábado, 12 de maio de 2018

AOS NOVENTA ANOS DE DONA AMÉRICA

José de Anchieta Batista
Seria ingratidão não dedicar hoje, em meu humilde espaço deste jornal, mesmo que singela, uma homenagem a minha mãe, dona América, que completou no recente dia dez de maio, noventa anos de existência.
- Parabéns, mamãe. Abençoe-me da distância que hoje nos separa, já que uma crise de deficiência respiratória, provocada por aquele velho enfisema pulmonar, herança maldita do tempo de fumante, coisa que a Senhora sempre reprovou, impediu-me de viajar à Paraíba, para estar presente na tão merecida comemoração de seu aniversário. Vai, contudo, daqui de Rio Branco, meu “muito obrigado, mamãe!”, por tudo o que fez por nós.
Minha gente, eu vejo as mães como seres divinos, continuadoras da criação. Sua motivação maior e mais sublime é o amor, unicamente o amor. Cuida, zela, educa, defende os seus rebentos sem qualquer hesitação. O filho é um pedaço dela, fora dela. Minha mãe mostrou tudo isso no cotidiano da vida.
Não posso recordar a trajetória de vida de minha mãe, sem que me venha fortemente a imagem distante de minha infância, naquele sofrido sertão nordestino.  Dona América tornou-se a maior de todas as minhas heroínas. Sim, ela foi a heroína vencedora de mil lutas, junto ao meu honrado e destemido pai. Nunca se quedaram diante da inclemência daqueles velhos tempos tão difíceis.
Seu Batista era o “caçador”, aquele que ia à luta, com inabalável honestidade, para nunca nos faltar os meios de sobrevivência. Dona América era a “cuidadora”, aquela que nos abrigava no aconchego das longas asas do amor maternal. Éramos pobres materialmente, mas éramos ricos de ternura, dedicação, carinho e extremado zelo. Assim, em nosso humilde lar, fomos diuturnamente regidos pela maior força do Universo: o Amor.
Minha mãe e meu saudoso pai, sempre foram extremamente religiosos. Isso, naqueles sertões, tinha um valor imensurável. Quando as coisas apertavam, os joelhos dobravam-se até o chão e, com certeza, Deus escutava. Sempre senti que a força da fé, se não transportar a montanha, pelo menos aponta algum caminho para contorná-la. Assim procederam meus velhos pais.
Fui criança numa época em que havia hierarquia familiar, disciplina, respeito etc. A primeira e mais eficiente educação era na família. A escola, onde as regras também estavam presentes com o mesmo rigor, apenas ensinava e respondia os demais porquês do mundo. Hoje, sinto que a “vaca foi para o brejo”. E foi mesmo!
Minha mãe, sempre desmedidamente compreensiva e amorosa, surgia de vez em quando com um chinelo na mão, diante da quebra mais acentuada de algum preceito estabelecido. Aquilo funcionava maravilhosamente bem. E era muito bom que ficasse somente com Dona América o poder do chinelo. Ninguém queria que chegasse qualquer queixa a nosso pai, porque nessa “instância” as penas eram mais severas. Diferentemente de hoje, havia disciplina e muito respeito ás regras. A peia vinha por último. E já que toquei neste assunto, é bom lembrar que jamais fomos tratados fora dos limites do aceitável. Nunca houve exagero, porque o amor estava presente em tudo.
Crescemos. Fomos formados cidadãos do bem, exatamente pautados nos valores que nos foram repassados à maneira da época. E a participação de nossa mãe em tudo isso foi enorme, pois cabia a ela o acompanhamento mais de perto.
Em 2012, Seu Batista se foi, após cumprir com menção honrosa, sua missão aqui na Terra, sempre amado e respeitado por todos os seus descendentes e amigos.
Dona América completa agora noventa anos, momento em que, vitoriosa, recebe o galardão de nosso afeto, de nosso amor e de nossa gratidão. Infinito é o reconhecimento de todos nós, diante dos exemplos e valiosos ensinamentos que nos proporcionou no decorrer da vida.
- Parabéns e Obrigado por tudo, Dona América. Sob as bênçãos de Deus, receba a divina energia de todo nosso amor. Mais uma vez nos abençoe,

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