![]() |
============================ |
(*) José de Anchieta Batista
Depois de vinte anos ocupando cargos
no governo do estado do Acre, peguei meu matulão e voltei para minha condição
original de simples aposentado. Durante este período, como titular ou adjunto,
estive na administração de alguns órgãos do Estado, quais sejam: Secretaria de
Administração e Patrimônio Público, Secretaria de Educação, Secretaria
Executiva de Informática, Instituto de Previdência, além de órgãos da
administração indireta, como COHAB, ACREDATA, CODISACRE, FADES, COLONACRE e
CILA, ditas em extinção.
Alguém poderia me perguntar
qual foi o meu saldo, ao término destes 20 anos.
- Juro que não sei. Sempre
fui zeloso e exigente com tudo o que me proponho fazer. Com certeza, em nenhum
desses lugares foi diferente. É óbvio que, seja qual for o governo, vários
impedimentos sempre estão presentes para bloquear, ou mesmo dificultar,
avanços. Assim, perde-se mais tempo retirando obstáculos do caminho do que
propriamente caminhando. Porcarias oriundas dos manuais da politicagem, muitas
vezes impedem que se atinjam melhores resultados, obrigando-nos a continuar
rodando o mesmo filme todos os dias. Forças externas, e até mesmo internas,
impõem, repetidas vezes, inversões de prioridades quanto às necessidades e
melhorias de vida de nossa gente. Constatei que tudo depende daquilo que,
implantado, mesmo que não seja mais urgente e mais necessário, signifique uma
maior captação de votos. E por aí vai.
Diante de tudo isso, fiz o
que realmente pude. Tenho minha consciência tranquila de que aquilo que
precisava ser feito, se não o fiz, foi meramente pela impossibilidade de
executar.
O sabor do poder depende de
quem seja você. O ritual acontecido em suas entranhas pode tanto ser
fascinante, quanto causar-lhe nojo em certos momentos. Embora uma parte da
sociedade olhe você com raiva, isso é compensado pela outra parte que quer
carregá-lo nos braços; o conforto e as mordomias cercam você; chovem convites
para eventos luxuosos; você não vai ao banco porque o gerente vem até você;
novos amigos se apresentam, embora falsos e temporários; os “colunas-moles”
(assim os denomino) só faltam beijar-lhe os pés, num jogo de aproximação de
patéticas reverências. Os interesseiros estão em todos os lugares; Se você não tomar
cuidado, esquece as suas obrigações e se entrega tão somente a sentir-se um
rei, com bajuladores lhe refrescando a vida, num mundo de inócua fantasia. É aí
que os puxa-sacos juramentados que vivem ao derredor, começam a falar,
mentirosamente, somente o que lhe agrada ouvir. Isso inevitavelmente vai
empurrar sua gestão para o brejo.
Uma das coisas que me
envaidecem hoje em dia é não ter, em momento algum, deixado o veneno do poder
subir para a cabeça, como um patrimônio meu. Nunca me fiz pavão nem andei de
“sapato alto” para me sentir acima das pessoas. Na realidade foram 20 anos
buscando servir, o que em alguns casos não é bem compreendido, sempre que os
interesses pessoais estão na contramão da lei.
Desejo concluir este artigo
pondo em foco aqueles que entram em depressão quando termina o mandato ou o
cargo para o qual tenha sido nomeado. Passar duas décadas no poder e adoecer
quando ele termina é ter interiorizado uma posse sobre o que em momento algum
lhe pertenceu. Não existe usucapião. A cadeira ocupada pertencia e continua
pertencendo ao povo.
Não foi uma só vez que
teatralizei meu desapego à cadeira em que estava sentado. Minha secretária, a
Samira, que me acompanhou por todo esse tempo, ria-se a valer quando por algum
motivo, levantava-me bruscamente, punha meu dedo em riste, apontava para aquela
espécie de "trono", e bradava com voz muito firme:
- Tu não me pertences!
Qualquer dia, outra bunda te ocupará!
Era verdade. Entrou um novo
governo, fui-me embora... e ela não me fez falta.
(*)
Auditor-fiscal aposentado da Receita Federal do Brasil, ex-Presidente da
Associação Brasileira das Instituições de Previdência (ABIPEM), ex-Secretário
de Estado do Servidor e do Patrimônio Público do Acre, Ex-vice-presidente do
CRCAC, ex-membro e vice-presidente do CONAPREV, Contador, Professor, Escritor, Poeta e ex-Presidente
do Acreprevidência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário