José de Anchieta Batista
Você sabe o que vem a ser HIPOCRILÍTICA? Não?
Calma aí, que eu lhe mostro o caminho das pedras.
Fique certo de que não é uma invenção minha. Num
primeiro contato, pode-se supor que se trata de uma técnica moderna, recém-descoberta
sobre uma coisa qualquer. Não, não é isso não. Quem sabe, seja uma novíssima
ciência responsável por alguma área do conhecimento humano. Também não é, amigo.
Bem que poderia ser uma geringonça criada pelo Prof. Pardal, aquele personagem
do Walt Disney que mantém, em seu jardim, aquela placa: “Inventa-se qualquer coisa”. Mas, não é isso não, nem nada
parecido.
Num desses dias, em busca de construir um
neologismo que retratasse a desavergonhada política brasileira, fiquei
orgulhoso de haver composto por aglutinação esse novo vocábulo. Fui ao Prof.
Google para constatar que minha suposta criação era inédita. Foi um engano. A
tal HIPOCRILÍTICA estava lá. Alguém já tivera a ideia e eu chegara simplesmente
atrasado. Diante disso, apenas balbuciei uma imprecação e, deixando pra lá a decepção,
fiz como a raposa da fábula de Esopo (A raposa e as Uvas):
- Não, Anchieta, essa palavra é horrível,
desagradável ao ouvido, difícil de pronunciar e, além de tudo, não parece dar
um sentido claro à pretensão. Estará, desde logo, abominada.
Bem, amigos, o certo é que a palavra já existe
na Língua Portuguesa e está inserida naquele dicionário virtual a que deram o
nome de “Dicionário Informal”. Eis como a descreveram:
“Junção
das palavras hipocrisia + política; Hipocrisia e corrupção instaladas na
política, que são fomentadas por políticos de má índole.”.
A HIPOCRILÍTICA, portanto, é algo privativo
de políticos safados, mentirosos, hipócritas, demagogos, ladrões, vagabundos, caras-de-pau,
ou qualquer dos abundantes sinônimos existentes, a critério do freguês. Ressalto
que também fazem parte da mesma corja, os asseclas, os comparsas e os puxa-sacos
do mundo da politicagem.
Embora veemente meu grito contra a
bandalheira política, é bom frisar que a abrangência do que abordo aqui não pretende
atingir 100% dos políticos. Seria uma imperdoável leviandade dizer que não
existem exceções.
Não estranhem minha confissão de que não
morro de amores pelo que chamam de política em nosso Brasil. Essa coisa
vergonhosa persiste em evoluir mui lentamente. É que tudo depende da mudança da
cultura e dos valores entranhados no conjunto de nossa gente. Aos 74 anos,
claro que não vou assistir transformações substanciais, porém alguma coisa já
foi sinalizada.
Os palanques, que antigamente eram os maiores
altares da mentira, transferiram-se ultimamente para nossos aparelhos de televisão,
nossos celulares e nossos notebooks. Com raríssimas exceções, figuras HIPOCRILÍTICAS
que se julgam “divinas” e “milagreiras”, aproveitam-se dessa ubiquidade para a
“compra de votos” pelo método das promessas que jamais cumprirão. Numa
sociedade em que as convicções políticas mudam de rumo conforme a onda que
estiver em voga; numa sociedade em que a compra do eleitor só muda o jeito de como
fazê-lo; numa sociedade em que subsiste o “MOBRAU” (Movimento Brasileiro de
Analfabetos Universitários), lidamos com uma infinidade de “doutores com
depromas”, lamentavelmente nivelados aos analfabetos comuns, na inconsciência
da própria cidadania. É triste a realidade: Somos uma sociedade repleta de
analfabetos políticos. E isso é muito lento para mudar.
Em nosso querido e sofrido Brasil, o “se dar
bem” é o grande combustível que move os HIPOCRILÍTICOS. Na busca por algum
mandato, os interessados nesse mercado de poder e roubalheira negociam a mãe e
a própria alma para o capeta. Lambuzam-se todos na fétida lama e se tornam cada
vez mais convictos de que são inatingíveis. E quanto mais se sujam, mais se
sentem vestais. Somente agora, nesses últimos tempos, nossa sociedade resolveu
dizer para eles que não é bem assim. Os órgãos de combate a esses malfeitores
históricos, resolveram anunciar o nascer de um novo sol. Assim, só recentemente,
com muitas eras de atraso, inúmeros decretos de prisão pareciam gritar a esses
personagens: Cuidado! Acordamos e estamos
aqui. Evitem praticar rapinagens com o patrimônio do povo. Vamos prendê-los
também!
Esses alertas barulhentos, por
meio de exemplos mostrados na mídia, quando do aprisionamento de seus pares e
comparsas, parecem não alcançar a amplitude esperada. Não lhes causam temor. Não
há um só dia em que não se aconteça pelo menos uma nova operação das polícias,
prendendo alguém que continuou na mesma safadeza. Esses caras, ou não conseguem
acreditar em que não são mais inatingíveis, ou alimentam a confiança de que
“comigo não acontecerá”. Pelo que estou assistindo, faz sentido avisá-los: aguardem!
Um lembrete: tais meliantes não são somente
ladrões. São assassinos. Ajudam a matar pessoas, roubando os recursos que
evitariam muitos velórios.
É isso, amigos, melhoramos muito, mas há
muita estrada a percorrer. Parece muito difícil encontrar um pesticida que
elimine, com maior rapidez e de uma vez por todas, as desgraças provocadas pela
HIPOCRILÍTICA BRASILEIRA.
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