(*) José de Anchieta
Batista
Faço questão de iniciar esta crônica,
dizendo que nada aqui é direcionado a dirigentes ou a Igrejas que trilham os
caminhos de Deus, na verdadeira prática do bem e do amor ao próximo, agindo com seriedade, decência e responsabilidade. Sejam cristãs ou não.
Dito isto, passo a afirmar que sou um
homem que acredita piamente na existência de um Poder Superior, consciente e
inteligente, que rege, minuciosamente, a dinâmica de tudo o que existe. Um Ser
Supremo que rege realmente tudo, desde o micro até o macro. Esta certeza não é
uma herança de minha longa passagem por um seminário católico. Vem do
mais profundo de minha alma.
Lembro-me de que, uns cinco anos após
abandonar a vida eclesial, comecei a duvidar de tudo. Até mesmo de
Deus. As novas leituras a que me dediquei, um novo mundo de atrações mundanas e
as novas amizades antideístas, puxavam-me para isso. Mesmo assim, enquanto os
lábios blasfemavam, com força, “Deus não existe!”, a mente bradava intimamente
“perdão, meu Deus!”. Era aquela coisa de jovem, metido a intelectual, querendo
aparecer, principalmente diante dos outros.
Passadas algumas estações da vida,
veio-me novamente uma vontade enorme de me encontrar com Deus. Fui ao seio das
religiões. Mais uma vez, conflito total! Talvez isto só tenha acontecido
comigo, mas me convenci, sob todos os aspectos, de que ali dentro das igrejas,
dificilmente as orações e os cânticos conseguiam ultrapassar a cumeeira dos
templos. Basta! – gritei eu para mim mesmo. E, novamente, me afastei de tudo,
sem, todavia, abominar a existência de um Poder Universal, com domínio total
sobre tudo o que existe. Continuei alheio a qualquer culto religioso, mas
sempre com profundo respeito à fé daqueles que professam esta ou aquela
doutrina. Nesta caminhada, desisti de procurar um Deus fora de mim, para
buscá-lo no mais íntimo de meu ser. E ali estava Ele! Infinito, divino,
paterno, cheio de amor! E eu, uma poderosa fagulha Dele!
Como disse acima, respeito todas as
religiões. Vejam bem: eu as respeito! Quando simplesmente as toleramos, muitas
vezes o fazemos altamente incomodados. Quando, porém, as respeitamos, há um
sentimento de fraternidade.
Amigos, nos dias atuais, sinto que
estamos diante de uma realidade perversa. Por mais fraternidade que
pratiquemos, por mais que sejamos respeitosos e tolerantes, está bem difícil
conviver com algumas religiões que não possuem um mínimo de respeito para com
seus semelhantes. São aglomerações, ditas religiosas, sob o comando de
verdadeiros estelionatários, com fins meramente comerciais, e que se contrapõem
aos mais rudimentares princípios das divinas mensagens cristãs. A visão que
hoje tenho dessas denominações, que vêm surgindo aos montes ultimamente, é a de
que alguns “vivaldinos”, autênticos criminosos, subjugam a mente de pessoas
desesperadas, incautas e ignorantes, a fim de fazerem proliferar suntuosos
shopping centers da fé, cuja preciosa mercadoria é um falso Jesus de
Nazaré. E não ficaram somente nesta prática. Passaram a incentivar
atos de violência contra aqueles que se abrigam em outros credos, sob o
argumento de que somos todos demônios e que, por isso, devemos ser eliminados
da face da Terra. Que é isso, ó Deus? Onde chegamos? Diante desses falsários,
de pregações espúrias, lembro-me de que os religiosos da época de Cristo o
acusaram, o condenaram e o mataram. Dois mil anos depois, temos que conviver
com os mesmos mercadores do templo, os mesmos fariseus, os mesmos escribas, os
mesmos doutores da lei!
Expostos a essa alcateia, parece que
estamos diante de um beco sem saída. As leis brasileiras são
absolutamente lenientes e permissivas para com esse bando de criminosos e
contraventores, que além de se locupletarem com o suor alheio, vendem a utopia
da prosperidade fácil, teatralizam prodígios, zombam de nossa sociedade, sem
darem bolas para a decência e para os bons costumes. Esses falsários cobram o
“imposto” do dízimo com muito mais rigor do que são cobrados os tributos
administrados pela Receita Federal. Amparados por uma abusiva imunidade
tributária para “templos de qualquer culto”, criam um igarapé que deságua em
seu patrimônio pessoal. Dessa forma, alcançam vultosas fortunas, como se o
milagre dos cinco pães e dois peixes acontecesse todos os dias. Na tela da TV,
meio de comunicação em que investem fortunas e mais fortunas, o mais importante
não é a mensagem bíblica, mas as contas correntes onde deverão ser depositados
os recursos implorados pateticamente. São ricos, podres de ricos, e vivem
nababescamente, custeados por suas pobres ovelhinhas, sem se lembrarem de que o
Cristo viveu na Terra “sem ter onde reclinar a cabeça” (Mateus, 8:20).
Não há um só local em que eles não plantem seus tentáculos, principalmente em
busca de parcela dos míseros salários das pessoas. Há exemplos de humildes
criaturas que repassaram para os tais salvadores de almas, veículos,
televisores, terrenos, casas e outros bens, a fim de satisfazerem a ganância
dessas aves de rapina. São os “sepulcros caiados”, a “raça de víboras”,
que não conseguem escutar as muitas advertências do Cristo:
“Ai de vós, doutores da Lei e fariseus
hipócritas, que devorais as casas das viúvas, com o pretexto de prolongadas
orações! Por isso, sereis mais rigorosamente julgados.” (Mt. 23).
Amigos, esses meliantes resolveram
agora acender as chamas do ódio, do desrespeito, da intolerância, contra os que
são praticantes de outros cultos. Li uma notícia de que na Paraíba, alguns
psicopatas de um “reduto religioso”, além de já terem promovido um
quebra-quebra de imagens, comparecem às escolas e, durante o recreio,
aterrorizam crianças, alertando-as de que frequentar a Igreja Católica
significa virar churrasco no inferno. Nesta semana, assisti a um vídeo em que
um maluco incita alguns jovens a promoverem desordens em templo
afro-brasileiro, alertando-os para fugirem com a chegada da polícia.
Outro, manda atacar os homossexuais. Em outra parte de nosso País, sob a
influência de sermões demoníacos, apedrejaram uma criança de 11 anos, que
retornava de um Centro de Candomblé, acompanhada de sua avó. Outras e
outras insanidades têm sido incentivadas por esses imbecis que se autointitulam
“profetas de Deus”. Disseram-me que aqui no Acre, já se iniciaram as
insinuações e até incursões contra algumas comunidades religiosas, sobremodo o
Santo Daime e os cultos que tiveram origem na cultura negra. Um absurdo!
Enquanto tudo isso acontece, temos o
bom exemplo do Padre Massimo Lombardi, que busca incentivar uma convivência
pacífica e fraterna entre os Cristãos de Rio Branco, procedendo reuniões
ecumênicas e até editando uma Cartilha com o expressivo título “Muitos São os
Caminhos de Deus”. Parabéns, padre!
Um grupo, contudo, nos traz pavor.
Lamentavelmente, instalou-se entre nós um fundamentalismo que
cresce mais e mais, sob o manto de uma hipócrita e satânica religiosidade, sem
que a sociedade brasileira saiba o que fazer para frear a maldade desses “lobos
em pele de cordeiro”. Em algum local de nossos códigos, com certeza,
devem estar catalogados os crimes e as contravenções que esses meliantes
praticam. O pior de tudo é que ninguém em nosso País tem a coragem de
colocar inseticida neste vespeiro. Ninguém se mexe para coibir o avanço desses
caras. E eles, ao se intitularem pastores, bispos, apóstolos, missionários, ou
sei lá o quê, julgam-se impunes e seguem em frente, saqueando nossa gente. Que
me perdoe o verdadeiro Cristo, mas passei a vê-los como mensageiros do capeta.
Será que ninguém percebe que eles estão ocupando “a cátedra de Moisés”, citada
por Jesus? Será que não se percebe que, com suas maquinações, estão
conseguindo dominar considerável parcela das instituições de nossa sociedade?
Hoje, por perspicazes que são, já têm influência, às vezes majoritária, em
todos os poderes constituídos, o que pode gerar mudanças que nos proporcionem
um País que, em nome de Deus, seja obrigado a adotar o apedrejamento, o
lançamento de homossexuais e prostitutas do topo dos edifícios, a decapitação,
a submissão primitiva das mulheres e muitos outros males terríveis, tudo sob o
comando desses malucos. Ou acham que isto é impossível e que o maluco sou eu?
Está na hora de se fazer alguma coisa!
Não, com os métodos de violência por eles sugeridos, mas por meio de ações
judiciais, contra a incitação à intolerância, ao desrespeito, ao ódio, absurdos
estes que têm acontecido de maneira crescente nos últimos dias.
É preciso a imediata união dos
verdadeiros evangélicos, católicos, kardecistas, daimistas, seguidores do
Candomblé, praticantes da Umbanda, budistas, etc., para que esta praga
dos últimos tempos encolha suas garras malditas.
Vamos concluir com uma citação bíblica:
- “Acautelai-vos, porém,
dos falsos profetas, que vêm até vós disfarçados em ovelhas, mas
interiormente são lobos devoradores ...” (Mateus 7:15-20).
(*) Escritor, Poeta, Viajor do tempo e do espaço.
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