(*) José de Anchieta Batista
Ocorrem coisas esquisitíssimas nos dias de hoje, imaginem só o que não
acontecia nos tempos de nossos avós.
O garotinho nascera
bonito e forte, tornando-se o centro de todas as atenções da casa. Tudo virou
festa com a chegada do mais novo integrante da família.
Somente numa
particularidade ele causou enorme confusão: - o nome. As opiniões sobre como se
chamaria eram muito diversificadas. A mãe sugeriu que o batizassem como
Vitório, mas não foi aceita a ideia: - este nome já houvera sido colocado em um
bezerro recém-nascido. Não ficaria bem. O orgulhoso pai, após muito matutar,
pensou que resolveria a questão, quando anunciou que o bruguelo teria o nome de
"Xarlis". Isso aí! Xarlis com "x" e "i-s".
Ninguém concordou. Era nome que não assentava em gente pobre. Os futuros
padrinhos também entraram com uma sugestão: - Virgulino! Foi rejeitado de
imediato quando se lembraram que este era o nome do cangaceiro Lampião.
Assim, todo mundo
opinava, mas ninguém conseguia dar solução ao problema. O coitadinho do guri já
tivera uns duzentos nomes, contudo, findava sempre sem nenhum.
Por fim, foi sugerida
uma busca nos velhos livros que o pai do menino mantinha em casa, e que, vez
por outra, os folheava sem entender coisa alguma. Eram velhos compêndios
encontrados à margem da estrada, provavelmente caídos de alguma mudança. Pois
bem: - Seu Chiquinho, o pai da criança, ficou encarregado da pesquisa. Naquele
mundo analfabeto ele era o mais letrado, pois houvera estudado a "Carta de
ABC", conseguira aprender a assinar o nome e a escrever rudimentarmente
alguma coisa. Talvez agora, daqueles alfarrábios, surgisse uma idéia nova que
melhor se encaixasse na simpatia geral.
Como os livros são
depósitos de sabedoria, não demorou muito para que todo mundo chegasse a um
consenso. Ninguém discordou. Era fantástico aquele nome! Como soava bem! O
próprio garoto orgulhar-se-ia dele.
Seu Chiquinho anotou
direitinho num pedaço de papel e lá se foi todo orgulhoso providenciar o que
chamavam de "rezisto".
O homem do cartório foi, talvez, o
maior simpatizante da escolha. Achara-a fabulosa. O grande problema é que o tal
livro, em que se empreendeu tão extraordinária pesquisa, proporcionou ao garoto
o extravagante e curioso nome de "Prepúcio" José da Silva.
(*) Escritor... poeta... viajor do tempo e do espaço... e não sei mais o quê.
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