sábado, 20 de junho de 2015

O NOME DO GURI

             (*) José de Anchieta Batista
            Ocorrem coisas esquisitíssimas nos dias de hoje, imaginem só o que não acontecia nos tempos de nossos avós.
            O garotinho nascera bonito e forte, tornando-se o centro de todas as atenções da casa. Tudo virou festa com a chegada do mais novo integrante da família.
            Somente numa particularidade ele causou enorme confusão: - o nome. As opiniões sobre como se chamaria eram muito diversificadas. A mãe sugeriu que o batizassem como Vitório, mas não foi aceita a ideia: - este nome já houvera sido colocado em um bezerro recém-nascido. Não ficaria bem. O orgulhoso pai, após muito matutar, pensou que resolveria a questão, quando anunciou que o bruguelo teria o nome de "Xarlis". Isso aí! Xarlis com "x" e "i-s". Ninguém concordou. Era nome que não assentava em gente pobre. Os futuros padrinhos também entraram com uma sugestão: - Virgulino! Foi rejeitado de imediato quando se lembraram que este era o nome do cangaceiro Lampião.
            Assim, todo mundo opinava, mas ninguém conseguia dar solução ao problema. O coitadinho do guri já tivera uns duzentos nomes, contudo, findava sempre sem nenhum.
            Por fim, foi sugerida uma busca nos velhos livros que o pai do menino mantinha em casa, e que, vez por outra, os folheava sem entender coisa alguma. Eram velhos compêndios encontrados à margem da estrada, provavelmente caídos de alguma mudança. Pois bem: - Seu Chiquinho, o pai da criança, ficou encarregado da pesquisa. Naquele mundo analfabeto ele era o mais letrado, pois houvera estudado a "Carta de ABC", conseguira aprender a assinar o nome e a escrever rudimentarmente alguma coisa. Talvez agora, daqueles alfarrábios, surgisse uma idéia nova que melhor se encaixasse na simpatia geral.
            Como os livros são depósitos de sabedoria, não demorou muito para que todo mundo chegasse a um consenso. Ninguém discordou. Era fantástico aquele nome! Como soava bem! O próprio garoto orgulhar-se-ia dele.
            Seu Chiquinho anotou direitinho num pedaço de papel e lá se foi todo orgulhoso providenciar o que chamavam de "rezisto".
            O homem do cartório foi, talvez, o maior simpatizante da escolha. Achara-a fabulosa. O grande problema é que o tal livro, em que se empreendeu tão extraordinária pesquisa, proporcionou ao garoto o extravagante e curioso nome de "Prepúcio" José da Silva.
(*) Escritor... poeta... viajor do tempo e do espaço... e não sei mais o quê.

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