A PROSA DOS MEUS
VERSOS
(*)
José de Anchieta Batista
José Chalub
Leite, meu saudoso amigo, ícone do jornalismo acreano, por muitos anos
editor-chefe de “O Rio Branco”, sempre
que surgia um fato novo que motivasse
um cordel, pedia-me para jogar alguns versos no papel.
Em 1985, não
havia, neste Acre de meu Deus, um único vivente que não detestasse o
desempenho dos Correios. Um dia, o Zé estava aborrecidíssimo com um documento
enviado e não recebido, e encomendou-me algo a respeito. Como de costume, ele
mesmo dava o título ao que eu escrevia. Desta vez batizou meus versos como:
POSTALGIA:
Senhor chefe do Correio,
Por favor me acredite,
Paciência tem limite
E eu mesmo já estou cheio
De sofrer tanto aperreio
Com minha correspondência!
Não sei se é negligência,
Não sei quem é o culpado,
Não sei se falta empregado,
Mas eu lhe peço clemência!
Por este Brasil afora,
O Correio é, na verdade,
Padrão de seriedade,
Sem desleixo e sem demora...
Mas este daqui, agora,
Só traz aborrecimento!
Eu estou c´um pensamento
De mudar de mensageiro:
- Tudo chega mais ligeiro
Transportado num jumento!
Corrija aí o defeito
Que embaraça o serviço,
Pois o Correio, com isso,
Há de mudar de conceito!
Mas, se este caso é sem jeito,
Pra findar este massacre,
Feche as portas, ponha um
lacre,
Demita aí todo mundo,
Jogue as chaves no mais fundo
Do leito do Rio Acre!
Rio Branco, 1985
|
Também em 1985,
a TELEACRE, estatal acreana de telefonia,
era motivo de raivas, chacotas e esculhambações, por parte de todos os
usuários.
Lembremos que
naquele tempo ainda estávamos longe dos aparelhos celulares.
Zé Leite,
revoltado porque não conseguia utilizar-se de tão importante instrumento de
comunicação, principalmente para um editor de jornal, pediu-me um cordel.
E os novos
versos produzidos foram intitulados sugestivamente como:
TELEAGONIA
DA TELEACRE
Telegrama, teleférico,
Telex, telepatia,
Teletipo, Telescópio,
Telebrás, telefonia,
TELEACRE! - tele-o-quê?
-Teledor! Teleagonia!
Graham Bell! Graham Bell! nos acuda!
Que serventia isto tem?
Pego o fone e disco um número
Pra falar com certo alguém,
Mas ninguém fala comigo,
Nem eu falo com ninguém!
Não adianta macumba
Quando essa coisa se cala!
Talvez a foniatria
Possa devolver-lhe a fala!
Telefone
Virou enfeite de sala!
E quando rompe o silêncio,
Outra surpresa nos traz:
- Barulhos, silvos e "bips"
Dos espaços siderais...
Mas, servir de telefone,
Só isto é que ele não faz!
Seu Diretor, dê um jeito
Nessa grande absurdez!
A paciência do povo
Já se esgotou de uma vez!
Somente o que funciona
É a conta no fim do mês
Rio Branco-AC, 1985
|
(*)
Escritor, poeta... e não sei mais o quê.
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