sábado, 25 de julho de 2015

A PROSA DOS MEUS VERSOS
(*) José de Anchieta Batista

José Chalub Leite, meu saudoso amigo, ícone do jornalismo acreano, por muitos anos editor-chefe de “O Rio Branco”,  sempre que surgia um fato novo  que motivasse um cordel, pedia-me para jogar alguns versos no papel.
Em 1985, não havia, neste Acre de meu Deus, um único vivente que não detestasse o desempenho dos Correios. Um dia, o Zé estava aborrecidíssimo com um documento enviado e não recebido, e encomendou-me algo a respeito. Como de costume, ele mesmo dava o título ao que eu escrevia. Desta vez batizou meus versos como:

POSTALGIA:

Senhor chefe do Correio,
Por favor me acredite,
Paciência tem limite
E eu mesmo já estou cheio
De sofrer tanto aperreio
Com minha correspondência!
Não sei se é negligência,
Não sei quem é o culpado,
Não sei se falta empregado,
Mas eu lhe peço clemência!

Por este Brasil afora,
O Correio é, na verdade,
Padrão de seriedade,
Sem desleixo e sem demora...
Mas este daqui, agora,
Só traz aborrecimento!
Eu estou c´um pensamento
De mudar de mensageiro:
- Tudo chega mais ligeiro
Transportado num jumento!

Corrija aí o defeito
Que embaraça o serviço,
Pois o Correio, com isso,
Há de mudar de conceito!
Mas, se este caso é sem jeito,
Pra findar este massacre,
Feche as portas, ponha um lacre,
Demita aí todo mundo,
Jogue as chaves no mais fundo
Do leito do Rio Acre!


Rio Branco, 1985
Também em 1985, a TELEACRE, estatal acreana de telefonia,  era motivo de raivas, chacotas e esculhambações, por parte de todos os usuários.
Lembremos que naquele tempo ainda estávamos longe dos aparelhos celulares.
Zé Leite, revoltado porque não conseguia  utilizar-se de tão importante instrumento de comunicação, principalmente para um editor de jornal, pediu-me um cordel.
E os novos versos produzidos foram intitulados sugestivamente como:

TELEAGONIA DA TELEACRE

Telegrama, teleférico,
Telex, telepatia,
Teletipo, Telescópio,
Telebrás, telefonia,
TELEACRE! - tele-o-quê?
-Teledor! Teleagonia!

Graham Bell! Graham Bell! nos acuda!
Que serventia isto tem?
Pego o fone e disco um número
Pra falar com certo alguém,
Mas ninguém fala comigo,
Nem eu falo com ninguém!

Não adianta macumba
Quando essa coisa se cala!
Talvez a foniatria
Possa devolver-lhe a fala!
Telefone em Rio Branco,
Virou enfeite de sala!

E quando rompe o silêncio,
Outra surpresa nos traz:
- Barulhos, silvos e "bips"
Dos espaços siderais...
Mas, servir de telefone,
Só isto é que ele não faz!

Seu Diretor, dê um jeito
Nessa grande absurdez!
A paciência do povo
Já se esgotou de uma vez!
Somente o que funciona
É a conta no fim do mês
Rio Branco-AC, 1985

(*) Escritor, poeta... e não sei  mais o quê.

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