segunda-feira, 20 de julho de 2015

COMO SAIR HONROSAMENTE DE UMA GREVE MALSUCEDIDA

(*) José de Anchieta Batista
Não dá para entender o porquê de tanta desinteligência nas cabeças dos que dirigem a atual greve da Educação.  Quando da deflagração do movimento, já havia total certeza de que o Estado não tinha condição nenhuma de atender a menor pauta que envolvesse recursos financeiros.  Isso foi dito, repetido, com apresentação de planilhas tecnicamente elaboradas, à luz dos números que já são públicos no portal da transparência e, também, em estimativas feitas com base na realidade estadual e nacional.  Não adiantou.  A teimosia saiu vencedora, tendo como trilha a insensatez.  
Diante de uma flagrante irresponsabilidade, conseguiram desagradar não somente  os alunos e seus pais, que tiveram bagunçadas as programações de viagens de férias, mas também a população em geral, que se viu obrigada a suportar abusos, como a vedação do direito de ir e vir, ante o bloqueio de vias urbanas. Em Rio Branco, onde o trânsito já é difícil, bloquear uma das pontes, sem um motivo realmente justificável, é agredir as pessoas. Pelos muitos impropérios que ouvi, graças a Deus minha velha mãezinha não fazia parte das que receberam tratamentos não muito afáveis por parte da população prejudicada. Somem-se a isso, os futuros transtornos nas rotinas das famílias, com reposição de aulas para cumprimento mínimo da grade curricular estabelecida. Foi uma aventura irresponsável  em que o fracasso já estava previsto para o final do filme. E deram-se muito mal porque não ouviram a voz da razão.
Voltemos no tempo para revivermos algo parecido.
Quando assumimos o governo em 1999, nosso Estado estava totalmente destruído. Para reestruturá-lo, havia necessidade de uma “moratória” generalizada, envolvendo todos os segmentos de nossa sociedade.  Desde os serviços essenciais, como saúde, educação, segurança etc., até os salários em atraso dos servidores públicos, muitos deles sem ver a cor do dinheiro há cinco meses.  Estabeleceu-se uma agenda de prioridades, tendo como princípio a responsabilidade, o que resultou em sermos acreditados pelas pessoas, no cumprimento dos objetos das negociações, isso, com os servidores, com os fornecedores, ou com a própria população. É desse tempo o pagamento dos salários, dentro do próprio mês trabalhado, algo que vem sendo praticado até os dias atuais.
Naquele período, desempenhei,  cumulativamente com o cargo de Secretário Adjunto de Administração, a função de presidente de quase todas as empresas públicas e de economia mista do Estado. Passei a gerenciar um time de “massas falidas”, sem divisar qualquer possibilidade de recuperação, ante o volume impagável de débitos fiscais e trabalhistas.  Foi difícil o enfrentamento dos problemas existentes, mas, pelo menos, conseguimos atenuar, por meio de refinanciamentos, o peso e as consequências que estes débitos traziam para os cofres do Estado.  Quanto aos servidores dessas estatais, foram distribuídos para quase todos os órgãos da administração, onde até hoje desempenham funções dignificantes. A ordem do então Governador Jorge Viana era não demitir, mas torná-los úteis à administração estadual, e isto foi cumprido. Ter sido o gestor disso tudo é algo de que muito me orgulho.  O desemprego não aconteceu e as famílias continuaram amparadas.
A atual greve da educação faz-me lembrar de um momento já vivido no ano 2000. Sindicatos representantes de servidores de alguns órgãos da administração indireta resolveram apresentar um rol de exigências bem acima das possibilidades do Estado, para aquele momento.   Durante muitos dias, as conversações aconteceram, tendo à frente o Assessor de Governo Francisco Nepomuceno, o Carioca. Os dias se passaram, as reuniões se repetiram, mas, praticamente, tudo permaneceu na estaca zero, e a decisão dos sindicalistas foi deflagrar a greve.
Durante o curto período em que estavam fora do trabalho, mais negociações aconteceram, porém os avanços foram quase nenhum. O Carioca passava o tempo inteiro mostrando que o Estado não podia atender as reinvindicações.
- Não há lógica que o empregado de uma empresa que já está desativada ganhe muito mais do que o salário de um professor, ou mesmo o dobro do que ganha um técnico da Secretaria de Saúde. Mais absurdo ainda é  exigir aumento agora. Não há lógica! Vejam a folha da COHAB! – bradava o Carioca.
Certo dia, nós do governo resolvemos buscar o limite do possível junto ao Secretário Mâncio Lima, com o objetivo de pôr fim ao impasse. Saímos da Secretaria de Fazenda com uma proposta que, quando lhes foi apresentada, acharam que estávamos com zombaria. Não representava sequer 10% das reivindicações. Por pouco, os ânimos exaltados não trouxeram agressões físicas. Ao final, ficaram avisados de que tinham quarenta e oito  horas para  retorno ao trabalho, sob pena de terem os pontos cortados.
- Isto aí é o absolutamente possível e, concordem vocês ou não, já vamos inserir na folha de pagamento deste mês. Mais do que isso: nem um centavo!
No outro dia, logo pela manhã, recebemos uma informação de que os servidores em greve estavam dispostos a voltar ao trabalho a partir do dia seguinte.
 Às onze horas, os mesmíssimos negociadores estavam ansiosamente plantados à porta do Nepomuceno. Soube-se, depois, que a pauta do encontro resumiu-se ao seguinte:
- Carioca, não avaliamos o desfecho da greve e vamos sair desmoralizados. Estamos numa grande enrascada.
- É só isso? Bobagem, amigos! Entrem aqui e se sentem que eu vou ensinar pra vocês o caminho das pedras.
Depois de meia hora de conversa, saíram do encontro bastante animados.  O certo é que, aplicada a fórmula recomendada pelo Carioca, não se sabe qual, a greve chegou ao fim e os servidores se acalmaram. Um mês depois, os dirigentes sindicais estavam reeleitos bem mais fortalecidos.
Grande Carioca!
Nossos atuais sindicalistas da Educação, no beco sem saída em que se meteram, têm de encontrar um caminho! Deve existir algum.

(*) Escritor, poeta... e não sei mais o quê.

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