(*) José de
Anchieta Batista
Não dá para entender o porquê de tanta
desinteligência nas cabeças dos que dirigem a atual greve da Educação. Quando da deflagração do movimento, já havia total
certeza de que o Estado não tinha condição nenhuma de atender a menor pauta que
envolvesse recursos financeiros. Isso
foi dito, repetido, com apresentação de planilhas tecnicamente elaboradas, à
luz dos números que já são públicos no portal da transparência e, também, em
estimativas feitas com base na realidade estadual e nacional. Não adiantou.
A teimosia saiu vencedora, tendo como trilha a insensatez.
Diante de uma flagrante
irresponsabilidade, conseguiram desagradar não somente os alunos e seus pais, que tiveram bagunçadas
as programações de viagens de férias, mas também a população em geral, que se
viu obrigada a suportar abusos, como a vedação do direito de ir e vir, ante o
bloqueio de vias urbanas. Em Rio Branco, onde o trânsito já é difícil, bloquear
uma das pontes, sem um motivo realmente justificável, é agredir as pessoas.
Pelos muitos impropérios que ouvi, graças a Deus minha velha mãezinha não fazia
parte das que receberam tratamentos não muito afáveis por parte da população prejudicada.
Somem-se a isso, os futuros transtornos nas rotinas das famílias, com reposição
de aulas para cumprimento mínimo da grade curricular estabelecida. Foi uma
aventura irresponsável em que o fracasso
já estava previsto para o final do filme. E deram-se muito mal porque não
ouviram a voz da razão.
Voltemos no tempo para revivermos algo
parecido.
Quando assumimos o governo em 1999,
nosso Estado estava totalmente destruído. Para reestruturá-lo, havia
necessidade de uma “moratória” generalizada, envolvendo todos os segmentos de
nossa sociedade. Desde os serviços
essenciais, como saúde, educação, segurança etc., até os salários em atraso dos
servidores públicos, muitos deles sem ver a cor do dinheiro há cinco
meses. Estabeleceu-se uma agenda de prioridades,
tendo como princípio a responsabilidade, o que resultou em sermos acreditados
pelas pessoas, no cumprimento dos objetos das negociações, isso, com os servidores,
com os fornecedores, ou com a própria população. É desse tempo o pagamento dos
salários, dentro do próprio mês trabalhado, algo que vem sendo praticado até os
dias atuais.
Naquele período, desempenhei, cumulativamente com o cargo de Secretário Adjunto
de Administração, a função de presidente de quase todas as empresas públicas e
de economia mista do Estado. Passei a gerenciar um time de “massas falidas”,
sem divisar qualquer possibilidade de recuperação, ante o volume impagável de débitos
fiscais e trabalhistas. Foi difícil o
enfrentamento dos problemas existentes, mas, pelo menos, conseguimos atenuar,
por meio de refinanciamentos, o peso e as consequências que estes débitos
traziam para os cofres do Estado. Quanto
aos servidores dessas estatais, foram distribuídos para quase todos os órgãos
da administração, onde até hoje desempenham funções dignificantes. A ordem do
então Governador Jorge Viana era não demitir, mas torná-los úteis à
administração estadual, e isto foi cumprido. Ter sido o gestor disso tudo é
algo de que muito me orgulho. O
desemprego não aconteceu e as famílias continuaram amparadas.
A atual greve da educação faz-me lembrar
de um momento já vivido no ano 2000. Sindicatos representantes de servidores de
alguns órgãos da administração indireta resolveram apresentar um rol de
exigências bem acima das possibilidades do Estado, para aquele momento. Durante muitos dias, as conversações aconteceram,
tendo à frente o Assessor de Governo Francisco Nepomuceno, o Carioca. Os dias
se passaram, as reuniões se repetiram, mas, praticamente, tudo permaneceu na
estaca zero, e a decisão dos sindicalistas foi deflagrar a greve.
Durante o curto período em que estavam
fora do trabalho, mais negociações aconteceram, porém os avanços foram quase nenhum.
O Carioca passava o tempo inteiro mostrando que o Estado não podia atender as
reinvindicações.
- Não há lógica que o empregado de uma
empresa que já está desativada ganhe muito mais do que o salário de um
professor, ou mesmo o dobro do que ganha um técnico da Secretaria de Saúde.
Mais absurdo ainda é exigir aumento
agora. Não há lógica! Vejam a folha da COHAB! – bradava o Carioca.
Certo dia, nós do governo resolvemos
buscar o limite do possível junto ao Secretário Mâncio Lima, com o objetivo de
pôr fim ao impasse. Saímos da Secretaria de Fazenda com uma proposta que,
quando lhes foi apresentada, acharam que estávamos com zombaria. Não
representava sequer 10% das reivindicações. Por pouco, os ânimos exaltados não
trouxeram agressões físicas. Ao final, ficaram avisados de que tinham quarenta
e oito horas para retorno ao trabalho, sob pena de terem os
pontos cortados.
- Isto aí é o absolutamente possível e,
concordem vocês ou não, já vamos inserir na folha de pagamento deste mês. Mais
do que isso: nem um centavo!
No outro dia, logo pela manhã, recebemos
uma informação de que os servidores em greve estavam dispostos a voltar ao
trabalho a partir do dia seguinte.
Às onze horas, os mesmíssimos negociadores
estavam ansiosamente plantados à porta do Nepomuceno. Soube-se, depois, que a
pauta do encontro resumiu-se ao seguinte:
- Carioca, não avaliamos o desfecho da
greve e vamos sair desmoralizados. Estamos numa grande enrascada.
- É só isso? Bobagem, amigos! Entrem aqui
e se sentem que eu vou ensinar pra vocês o caminho das pedras.
Depois de meia hora de conversa, saíram
do encontro bastante animados. O certo é
que, aplicada a fórmula recomendada pelo Carioca, não se sabe qual, a greve
chegou ao fim e os servidores se acalmaram. Um mês depois, os dirigentes
sindicais estavam reeleitos bem mais fortalecidos.
Grande Carioca!
Nossos atuais sindicalistas da Educação,
no beco sem saída em que se meteram, têm de encontrar um caminho! Deve existir
algum.
(*) Escritor, poeta... e não sei mais o quê.
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