sábado, 12 de setembro de 2015

ÂNUS ATRÁS e o INQUÉRITO ESCATOLÓGICO

ÂNUS ATRÁS
 Zé Leite, por muitos anos editor-chefe do jornal “O Rio Branco”, no Acre, era uma verdadeira enciclopédia de tudo quanto é tipo de curiosidades, ironias, sutilezas e gozações. Todo mundo era alvo. Ninguém que pertencesse a seu mundo estava livre. Tudo servia de motivo para formular alguma piada, até consigo mesmo.   Um dia ele me disse:      
- Anchieta, cometemos muitas besteiras, não é? Olha o que eu escrevi: - "anos atrás". Isto é redundância! Nunca conheci ninguém com ânus na frente.          
Só fiz sorrir, concordar e continuar a datilografar minha crônica.   Eram mais do que comuns essas pérolas dele.
Até o fim da vida foi ele assim! O Zé era exatamente aquilo: uma boca para ironizar (e fumar muito, como eu também fumava), dois olhos para ver o invisível, dois ouvidos para ouvir o inaudível, uma mente extraordinária, um grande coração, e as mãos registrando a vida de uma forma alegre. Saudades!

*****

O RIGOROSO INQUÉRITO
 Na edição do Jornal “O Rio Branco”, de 21 de maio de 1988, em seu espaço “A COISA EM SI”, Toinho Alves enfocou, com a singular ironia de sua caneta, fato inusitado que ocorreu em nossa Universidade Federal:


FUM!
O Juquinha, aquele garoto danado das piadas, está estudando na UFAC. E, misterioso, ataca mais uma vez. Defecou na piscina. E o reitor mandou abrir um “rigoroso inquérito” para apurar responsabilidades, ou seja, descobrir quem fez aquele negócio lá. Aqui na redação do jornal, ontem à tarde, especulávamos sobre os procedimentos que a Comissão de Inquérito deveria adotar para descobrir o culpado. Alguém sugeriu que todos estudantes da UFAC deveriam defecar numa sala para que a comissão pudesse comparar, um a um, os produtos desse esforço coletivo, com o original encontrado na piscina. Para averiguações mais detalhadas, a UFAC conta com um laboratório químico.
Outra sugestão: assim como o Príncipe saiu experimentando o sapatinho perdido por Cinderela nos pezinhos de todas as donzelas do reino, bastava também a Comissão de Inquérito medir o diâmetro do bolo fecal encontrado na piscina e depois sair comparando.
Enfim, está dada uma oportunidade de a comunidade universitária exercer plenamente a criatividade. Com os narizes tapados.


O inesquecível Zé Leite, editor-chefe do jornal, telefonou-me e exigiu que eu também fizesse um registro histórico da façanha, por meio de um cordel. Realmente a efeméride merecia ser guardada em algum arquivo de relevantes recordações.
Tentei descrever a grande epopeia, em estilo nordestino, porém, não me recordo bem o motivo, desisti e optei por resumir o heroico feito, sob a forma de soneto. Talvez porque, um acontecimento tão marcante, tendo como palco uma Universidade, onde permeiam a sapiência e a erudição, merecesse uma forma mais clássica na composição dos versos.
O próprio Zé Leite deu o título:

Soneto Escatológico

Esquecendo que a UFAC tem latrina,
Não se sabe se antigo ou se calouro
Fez a "coisa" ofuscar qual fosse ouro,
No lindo azul clorado da piscina.

E o desvairado autor desse "tesouro"
- Produto que no mundo predomina –
Jogou nos ares grande fedentina,
Pra consumar a falta de decoro...

Alguns pedem medalha e honra ao mérito!
Outros exigem que esta coisa estranha
Não se jogue no lixo do pretérito...

E em meio a essa confusão tamanha,
Vai, com certeza, o competente inquérito,
Dar no mesmo produto da façanha!

(Anchieta)

Até hoje não se sabe o resultado do “rigoroso inquérito”. Com toda a certeza, não deu em nada, ou melhor, o imperdoável malfeito passou para a história da UFAC como um crime insolúvel, com fedor de merda.

Nenhum comentário: