ÂNUS ATRÁS
Zé Leite, por muitos anos
editor-chefe do jornal “O Rio Branco”, no Acre, era uma verdadeira enciclopédia
de tudo quanto é tipo de curiosidades, ironias, sutilezas e gozações. Todo
mundo era alvo. Ninguém que pertencesse a seu mundo estava livre. Tudo servia
de motivo para formular alguma piada, até consigo mesmo. Um dia ele me disse:
- Anchieta, cometemos muitas besteiras, não é? Olha o que eu escrevi: -
"anos atrás". Isto é redundância! Nunca conheci ninguém com ânus na
frente.
Só fiz sorrir, concordar e continuar a datilografar minha crônica. Eram mais do que comuns essas pérolas dele.
Até o fim da vida foi
ele assim! O Zé era exatamente aquilo: uma boca para ironizar (e fumar muito,
como eu também fumava), dois olhos para ver o invisível, dois ouvidos para
ouvir o inaudível, uma mente extraordinária, um grande coração, e as mãos
registrando a vida de uma forma alegre. Saudades!
*****
O RIGOROSO INQUÉRITO
Na edição do Jornal
“O Rio Branco”, de 21 de maio de 1988, em seu espaço “A COISA EM SI”, Toinho
Alves enfocou, com a singular ironia de sua caneta, fato inusitado
que ocorreu em nossa Universidade Federal:
“FUM!
O Juquinha, aquele garoto danado das piadas, está
estudando na UFAC. E, misterioso, ataca mais uma vez. Defecou na piscina. E o
reitor mandou abrir um “rigoroso inquérito” para apurar responsabilidades, ou
seja, descobrir quem fez aquele negócio lá. Aqui na redação do jornal, ontem à
tarde, especulávamos sobre os procedimentos que a Comissão de Inquérito deveria
adotar para descobrir o culpado. Alguém sugeriu que todos estudantes da UFAC
deveriam defecar numa sala para que a comissão pudesse comparar, um a um, os
produtos desse esforço coletivo, com o original encontrado na piscina. Para
averiguações mais detalhadas, a UFAC conta com um laboratório químico.
Outra sugestão: assim como o Príncipe saiu
experimentando o sapatinho perdido por Cinderela nos pezinhos de todas as
donzelas do reino, bastava também a Comissão de Inquérito medir o diâmetro do
bolo fecal encontrado na piscina e depois sair comparando.
Enfim, está dada uma oportunidade de a comunidade
universitária exercer plenamente a criatividade. Com os narizes tapados“.
O inesquecível Zé
Leite, editor-chefe do jornal, telefonou-me e exigiu que eu também fizesse um
registro histórico da façanha, por meio de um cordel. Realmente a efeméride
merecia ser guardada em algum arquivo de relevantes recordações.
Tentei descrever a
grande epopeia, em estilo nordestino, porém, não me recordo bem o motivo, desisti
e optei por resumir o heroico feito, sob a forma de soneto. Talvez porque, um
acontecimento tão marcante, tendo como palco uma Universidade, onde permeiam a
sapiência e a erudição, merecesse uma forma mais clássica na composição dos versos.
O próprio Zé Leite deu
o título:
Soneto Escatológico
Esquecendo que a UFAC tem latrina,
Não se sabe se antigo ou se calouro
Fez a "coisa" ofuscar qual fosse ouro,
No lindo azul clorado da piscina.
E o desvairado autor desse "tesouro"
- Produto que no mundo predomina –
Jogou nos ares grande fedentina,
Pra consumar a falta de decoro...
Alguns pedem medalha e honra ao mérito!
Outros exigem que esta coisa estranha
Não se jogue no lixo do pretérito...
E em meio a essa confusão tamanha,
Vai, com certeza, o competente inquérito,
Dar no mesmo produto da façanha!
(Anchieta)
Até hoje não se sabe o resultado do “rigoroso inquérito”. Com toda a certeza,
não deu em nada, ou melhor, o imperdoável malfeito passou para a história da
UFAC como um crime insolúvel, com fedor de merda.
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