sábado, 26 de setembro de 2015

UMA RELIGIÃO CHAMADA CIÊNCIA

José de Anchieta Batista
Sempre encontro alguém que se diz versado em Deus, em Jesus, nas verdades do Céu. Silenciosamente, mas de forma fraternal, dirijo-lhe aquela frase muito usada hoje em dia, quando discordamos de algo: Sabe de nada, inocente!
Defendo a existência das religiões. Também pratico uma delas. São úteis e necessárias, ante a necessidade que o homem traz consigo de cultuar o “sagrado”. Precisamos crer em algo acima de nossa pequeneza. Contudo, este verbo crer, muito vinculado à fé, pode representar um caminho para ser manietado por outros. São as crenças impostas, a que denomino “pratos feitos”. E aí entra de tudo, principalmente o pavoroso medo de passar a eternidade no inferno. Huberto Rohden, espiritualista brasileiro, afirma que “ninguém crê no que quer; crê no que pode crer”. Em sã consciência, aí está o limite do tamanho da fé. O resto é mera fantasia ou produto da imposição psicológica do “prato feito”. Fica por conta de cada um de nós, os acréscimos de limites a nossa capacidade pessoal de crer.
Concluído este introito, aventuro-me por outra abordagem, dentro do mesmo contexto. É que já não me contento com algumas “verdades” milenares que nos foram trazidas pela ignorância e pela inocência de nossos ancestrais. Tenho consciência de que, na amplidão deste maravilhoso Universo, repleto de enigmas, somos meras crianças. Contudo, já não cabe mais, em pleno século XXI, explicar as nossas incógnitas por meio de historinhas assemelhadas às fábulas de La Fontaine.
Realmente somos pequeninos diante da magnitude de tudo o que existe. Somos como crianças procurando avançar no entendimento.  Lembro-me nitidamente de que, quando eu era menino, dentre muitos outros pensares de meu mundo fantasioso, acreditava que os urubus faziam seus ninhos dentro das nuvens; tinha certeza de que os trovões e relâmpagos eram a forma de Deus expressar sua ira contra os homens, e tinha raiva de Papai Noel pelos presentes que não me dava. Seu Batista, além de meu pai e guardião, era para mim, com suas concepções rudimentares, o sábio que buscava desvendar todos os mistérios, diante das inumeráveis incógnitas e pavores que me cercavam.
Pela vida afora, muito busquei entender o confronto entre a Ciência e a Religião. O que sei é que, historicamente, quando a ciência traz à tona uma verdade verdadeira, a religião recua, muda ou adapta seus equivocados ditames. Assim, as descobertas científicas vão expurgando interrogações e nos trazendo a certeza de que, dali por diante, aqueles fenômenos, ou nossas maneiras equivocadas de ver ou sentir, passam a ter uma outra cara: a indiscutível cara da verdade. Assim tem sido a Ciência, corrigindo as crenças, mudando os rumos da vida e desvendando os aparentes mistérios intrínsecos e extrínsecos de cada coisa.
Quando o Criador, da maneira como cada um O conceba, seja lá como Ele realmente for, explodiu o nada e fez nascer a infinita essência do tudo, imprimiu também, nos recônditos desse tudo, mistérios dificilmente atingíveis e desvendáveis pela pequenez dos deuses diminutos que também criou. Esses pequeninos deuses somos nós, os homens. Em meio a tudo isso, vagamos, inocentes e ignorantes, sem a ideia de nossa origem, sem a razão de nosso existir, sem ter consciência de para onde caminhamos. Nesta enorme confusão, sempre surgem os “iluminados” que se outorgam o conhecimento de tudo. É aí que nossa modesta sensatez nos grita: Sabe de nada, inocente!
Hoje, septuagenário que já sou, olho para o mundo e me vejo ainda subindo o primeiro degrau de uma infinita escadaria. Meus cabelos brancos não representam muito no trilhar do saber, nem meu corpo físico, já fatigado pelo passar dos anos, conduz em si a propalada sabedoria do ancião. Sinto-me uma tenra criatura, frágil e ignorante, sempre ouvindo de mim mesmo: Sabe de nada, inocente!
Mesmo assim, pude alcançar que tudo é energia! E o Criador é a Suprema Energia Originária que movimenta tudo e manifesta o constante milagre da vida. Estou convencido de que, se antes nada existia, tudo o que compõe o Universo veio dessa Força Maior. Por isso, cada partícula a Ele está ligada. As leis que regem e movimentam todos os sistemas existenciais, embora eu desconheça seus princípios e regras, são por Ele comandadas. Não pode ser diferente. É algo bem acima do teto de meu entendimento, algo infinitamente colossal, que me obriga encolher-me num recanto de mim mesmo, para ouvir um grito ensurdecedor: Sabe de nada, inocente!
Aos poucos, e através dos milênios, a Ciência vem cuidando de retirar os véus de nossa ignorância.  Parece até que o Criador deu existência a esta coisa caórdica, mas guardou consigo as minúcias e as equações de enésimas incógnitas, para ocupar os cientistas em desvendá-las, num processo que nunca chegará ao fim.
Naquele momento, deve ter pronunciado em seu íntimo:
- Eis aí os grandes enigmas da existência. Encontrem-me neles! Eu estou em cada partícula!
Para encontrar Deus, as religiões foram sendo forjadas pelo homem.  Multiplicaram-se, com suas variações e adaptações, por todos os recantos da Terra, muitas delas navegando entre o absurdo e o razoável, entre o amor e o ódio, entre o bem e o mal, pregando a fraternidade, mas promovendo a destruição do semelhante. Enquanto isso, a Ciência teve que caminhar paralelamente para clarificar as “verdades aparentes” e os dogmas sem fundamento. Muitos e muitos morreram nas fogueiras, por se contraporem a concepções mentirosas impostas em nome de Deus. E isso não mudou muito. Neste aspecto, o mundo moderno continua quase na pré-história. Aqueles verdadeiros mártires buscavam, mesmo sem terem consciência disso, o caminho das supremas verdades do Criador. Pena que muitas descobertas foram direcionadas para a prática do mal.
Concluo neste momento, pequenino que sou, ouvindo algo estridente que em mim ecoa:
-  Sabe de nada, inocente!
Ah! Quase me esqueço de emitir uma última opinião, colhida na insignificância de meu modesto mundo:
A Ciência é a verdadeira Religião de Deus!

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