terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

SOMOS TODOS FOFOQUEIROS

Não tenho formação nas Ciências que tratam das doidices da humanidade, mas tenho certeza de que a fofoca é uma manifestação doentia da alma humana. Uma patologia coletiva que se faz praticamente incurável.  A fofoca atrai, junta, separa, dispersa, contamina, alimenta, destrói, desencanta, fascina, mexe com as pessoas. A fofoca é como um animal insaciável e invisível que se nutre da vida dos outros. Sobrevive de forma incontrolável, veloz, sub-reptícia, traiçoeira. Cresce e se espalha por baixo de tudo, como fogo de monturo. E quando se faz visível, ninguém mais consegue detê-la, ninguém mais segura o seu cabresto.
A fofoca é, sem dúvida, um dos mais atrativos passatempos da vida. É uma companheira de nosso cotidiano. Ela preenche com muita eficácia a ociosidade dos que não têm o que fazer. No trabalho, sem perder seu caráter maléfico e pernicioso, ajuda o tempo a passar. Tudo é combustível para a fofoca, principalmente a honra das pessoas. Devastadora para com os outros, ela serve de cortina e de bálsamo às mazelas da vida do próprio fofoqueiro. É uma forma de esconder suas próprias desgraças.  Esquece-se, contudo, de que os outros fofoqueiros continuam cuidando minuciosamente da vida dele.
Há alguns anos, quando as viagens aéreas saídas do Acre obrigavam-nos a uma conexão que demorava mais de duas horas, lá em Cuiabá, ouvi ali, no salão do aeroporto, uma figura exponencial da política acreana dizer aos seus companheiros de partido, sentados em cadeiras vizinhas:
- “... porque contra qualquer desafeto meu, primeiramente eu invento um bocado de mentiras e espalho para o mundo inteiro. Se descobrir que fui eu, dou um jeito de provar que tudo é verdade”.
O assunto ali tratado tinha como eixo uma fofoca, espalhada em Rio Branco, sobre seu principal adversário naquele momento. Consciente da capacidade despudorada daquela criatura fanfarrona e de nojento mau-caráter, abominei-o de tal forma que nunca mais pude olhá-lo como criatura decente, o que realmente nunca foi.
Dr. José Ângelo Gaiarsa em seu livro “Tratado Geral sobre a Fofoca” declara que a fofoca “é a forma mais eficaz de as pessoas se vigiarem para manter o status da perseguição de todos contra todos". E acrescenta: Todos vigiam todos para que ninguém faça o que todos gostariam de fazer”. 
O velho e saudoso psiquiatra, falecido em 2010, aos 90 anos, era dono de uma sinceridade que não admitia curvas. Por muitos anos manteve orientações ao público, em programas televisivos, nos quais, como se faz justo afirmar, “era nu e cru”. Não usava de temperos para agradar paladares, nem dourava a pílula que seus entrevistados e ouvintes tivessem que engolir. Em seus livros e em seus debates na televisão, suas palavras eram verdadeiras chicotadas. Assim, sempre tratou a fofoca como um grande desserviço à saudável convivência humana.
Meus amigos, a fofoca é uma doença que ninguém admite ter. Está presente em todas as camadas, na política, nos negócios, na família, na religião e em todos os recantos onde viva o ser humano. Uma das características interessantes é que ninguém admite praticá-la:
- A vida alheia não me interessa! Não falo da vida de ninguém! – afirma um fofoqueiro.
- É... mas ontem o senhor estava metendo o pau na vida de seu vizinho – rebate alguém.
- Não, senhor. Eu estava apenas comentando sobre a riqueza dele, porque dizem que é de origem duvidosa. Foi somente um comentário. Eu não falo da vida alheia! – arremata o “puro” homem.
E assim caminha o mundo da fofoca, sem que ninguém admita ser o pai ou a mãe dela. É motivo para briga alguém apontar o outro como fofoqueiro. Ninguém assume esta condição.é
Atenção! O assunto tratado nesta crônica não tem o propósito de solapar somente os outros. Estou me referindo igualmente a mim e a você. Com exceção dos que já alcançaram muitos degraus de evolução espiritual, todos nós somos fofoqueiros em algum grau. Num simples comentário sobre a vida alheia, podemos estar ajudando a propagar uma fofoca sobre nosso semelhante. 
Como é difícil pôr um freio nisso. Uma regra de ouro a ser praticada seria:
- Se for para falar mal de alguém, mesmo que seja numa única palavra, se cale!
Que isto é quase impossível, não tenho dúvida. A língua fica inquieta ... coça ... quer saltar para fora da boca ... e quase sempre o propósito de não fofocar vai para o beleléu.

Como a vida dos outros nos fascina! 
(José de Anchieta Batista)

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