Padre Anctonio Tomaz |
O padre e poeta Antonio Tomaz nasceu na cidade cearense de
Acaraú, no dia 14 de setembro de 1868. Iniciou seus estudos em Sobral, também
no Ceará, transferindo-se para o Seminário de Fortaleza, onde foi ordenado
sacerdote em 1881. Em meio ao seu mister
sagrado, mostrou-se também um exímio poeta, um sonetista magnífico, com
indiscutível capacidade de resumir com maestria, em quatorze versos, uma contundente
mensagem à humanidade. E embora seja vasta sua poesia sacra, o padre Tomaz não
se prendeu tão somente a este estilo. Seus sonetos, com temas do cotidiano,
fora do altar e da sacristia, são verdadeiras pérolas.
O padre-poeta e poeta-padre, após cumprir na Terra uma jornada de 73 anos, entre sacramentos e poesias, faleceu em 16 de julho de 1941, em Fortaleza, para onde se transferira ao final da vida, em busca de tratamento para sua debilitada saúde.
O padre-poeta e poeta-padre, após cumprir na Terra uma jornada de 73 anos, entre sacramentos e poesias, faleceu em 16 de julho de 1941, em Fortaleza, para onde se transferira ao final da vida, em busca de tratamento para sua debilitada saúde.
Sobre a vida e a obra deste grande
poeta, sua sobrinha, poetisa e escritora, Dinorá Tomaz Ramos, publicou, em
1950, o livro “Padre Antonio Tomaz – O
Príncipe dos Poetas Cearenses”, do qual extraí um trecho que resume a criatura
que era este colossal poeta:
“... De acordo com as suas disposições testamentárias, foi o cadáver sepultado sem ataúde, não sendo colocada no local nenhuma lápide, nenhuma inscrição, nenhum nome, sem sequer uma data para assinalar que ali jazem os restos mortais do Reverendo Padre Antonio Tomaz, virtuoso Sacerdote Católico, consagrado Príncipe dos Poetas do Ceará. Como se vê, quis morrer como viveu, na mais inviolável obscuridade. Nunca publicou os seus versos. Eram os amigos que levavam à imprensa cópia de suas produções. Deixou a proibição de que fossem os mesmos enfaixados em livro. Não quis, ao menos, que um epitáfio marcasse a sua mansão mortuária. Já muito doente, na Santa Casa de Sobral, que o acolhera, improvisou no dia 3 de maio de 1941, a instâncias de um amigo que o visitara, o seu último soneto – DESENCANTO -, abaixo transcrito, que bem exprime o estado da alma e do corpo em que então se encontrava. Foi Padre durante meio século. Morreu como vivera: desprendido, serenamente, discretamente”.
DESENCANTO
Muitas vezes
cantei, nos tempos idos,
Acalentando
sonhos de ventura;
Então da lira
a voz suave e pura
Era-me um
gozo d’alma e dos sentidos.
Hoje vejo
esses sonhos convertidos
Num acervo de
penas e amargura,
E percorro da
vida a estrada escura
Recalcando no
peito os meus gemidos.
E, se tento
cantar como remédio
Às minhas
mágoas, ao sombrio tédio
Que
lentamente as forças me quebranta,
Os sons que
arranco à pobre lira agora
Mais parecem
soluços de quem chora
Do que a doce
toada de quem canta.
Desejo aqui destacar um soneto
historicamente atribuído ao Padre Antonio Tomaz, mas que, talvez pelo assunto
que aborda, sua sobrinha Dinorá afirma não pertencer ao reverendo. Apesar
disso, as publicações havidas em jornais e revistas, sempre lhe atribuíram a
autoria:
NOITE DE
NÚPCIAS
Noite de gozo, noite de delícias,
Aquela em que a noiva carinhosa,
Vai do seu noivo receber carícias
No leito sobre a colcha cor-de-rosa.
Sonha acordada coisas fictícias,
Volvendo-se sobre o leito, voluptuosa,
E o anjo de amor e de carícias
Fecha a cortina tênue e vaporosa.
Ouvem-se beijos tímidos, ardentes,
Por baixo da cortina assim velada,
Entre suspiros tristes e dolentes.
Se fitássemos a noiva agora exangue,
Vê-la-íamos bem triste e descorada
E o leito nud
pcial banhado em sangue.
Aquela em que a noiva carinhosa,
Vai do seu noivo receber carícias
No leito sobre a colcha cor-de-rosa.
Sonha acordada coisas fictícias,
Volvendo-se sobre o leito, voluptuosa,
E o anjo de amor e de carícias
Fecha a cortina tênue e vaporosa.
Ouvem-se beijos tímidos, ardentes,
Por baixo da cortina assim velada,
Entre suspiros tristes e dolentes.
Se fitássemos a noiva agora exangue,
Vê-la-íamos bem triste e descorada
E o leito nud
pcial banhado em sangue.
Finalmente, para concluir esta humilde homenagem ao grande
poeta das Terras de José de Alencar, brindamos nossos leitores com os sonetos “VERSO
E REVERSO”, “CONTRASTE” e “O PALHAÇO”, certamente os mais conhecidos dentre os
que escreveu o reverendo:
VERSO
E REVERSO
Essa mulher, de face escaveirada,
Que vês tremendo em ânsias de fadiga,
Estendendo a quem passa a mão mirrada,
Foi meretriz antes de ser mendiga.
Fugiu-lhe breve, desta vida airada,
A mocidade, a doce e quadra amiga,
E chegou a ser velha e desgraçada,
Antes do tempo, a quanto o vício obriga!
Ontem, de gozo e de volúpia ardente
Fosse a quem fosse, dava a qualquer hora
O seio branco e o lábio sorridente
Hoje -triste sina! - embalde chora,
Pedindo esmola àquela mesma gente
Que de seus beijos se fartara outrora.
Que vês tremendo em ânsias de fadiga,
Estendendo a quem passa a mão mirrada,
Foi meretriz antes de ser mendiga.
Fugiu-lhe breve, desta vida airada,
A mocidade, a doce e quadra amiga,
E chegou a ser velha e desgraçada,
Antes do tempo, a quanto o vício obriga!
Ontem, de gozo e de volúpia ardente
Fosse a quem fosse, dava a qualquer hora
O seio branco e o lábio sorridente
Hoje -triste sina! - embalde chora,
Pedindo esmola àquela mesma gente
Que de seus beijos se fartara outrora.
CONTRASTE
Quando partimos no verdor dos anos,
Da vida pela estrada florescente,
As esperanças vão conosco à frente,
E vão ficando atrás os desenganos.
Rindo e cantando, céleres e ufanos,
Vamos marchando descuidosamente...
Eis que chega a velhice de repente,
Desfazendo ilusões, matando enganos.
Então nós enxergamos claramente
Como a existência é rápida e falaz,
E vemos que sucede exatamente
O contrário dos tempos de rapaz:
– Os desenganos vão conosco à frente
E as esperanças vão ficando atrás.
O PALHAÇO
Ontem viu-se-lhe em casa a esposa morta
E a filhinha mais nova tão doente!
Hoje, o empresário vai bater-lhe à porta,
Que a platéia o reclama impaciente.
Ao palco em breve surge... Pouco importa
O seu pesar àquela estranha gente...
E ao som das ovações que os ares corta,
Trejeita, e canta, e ri nervosamente.
Aos aplausos da turba ele trabalha
Para esconder no manto em que se embuça
A cruciante angústia que o retalha,
No entanto a dor cruel mais se lhe aguça
E enquanto o lábio trêmulo gargalha,
Dentro do peito o coração soluça.
Ontem viu-se-lhe em casa a esposa morta
E a filhinha mais nova tão doente!
Hoje, o empresário vai bater-lhe à porta,
Que a platéia o reclama impaciente.
Ao palco em breve surge... Pouco importa
O seu pesar àquela estranha gente...
E ao som das ovações que os ares corta,
Trejeita, e canta, e ri nervosamente.
Aos aplausos da turba ele trabalha
Para esconder no manto em que se embuça
A cruciante angústia que o retalha,
No entanto a dor cruel mais se lhe aguça
E enquanto o lábio trêmulo gargalha,
Dentro do peito o coração soluça.
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