(*) José de Anchieta Batista
Que se sintam excluídos
de tudo o que aqui abomino, os verdadeiros pastores e irmãos diversos,
praticantes dos ensinamentos crísticos, amantes de um Deus supremo, e que respaldam
suas vidas na fraterna prática do “ amai-vos
uns aos outros! ”.
Faço aqui uma
advertência que traduz meu modo de pensar: todas as divergências existentes entre nós nascem
de nossa pequenez e de nossa ignorância, mas indubitavelmente somos todos
irmãos. Há uma verdade suprema que não alcançamos porque não temos ainda, nem “os
olhos de ver”, nem “os ouvidos de ouvir”.
Nos últimos
dias, tenho lido e ouvido dos que praticam um evangelismo míope e radical, algumas
mensagens altamente absurdas sobre a morte do ator Domingos Montagner. Opiniões
de verdadeiros ignorantes, metidos a sábios, a santos ou a profetas, que buscam
aparecer diante do mundo. São os mesmos que vomitam sermões, condenando hipocritamente
a intolerância religiosa, a falta de fraternidade, etc., mas que concluem
sempre “a palavra de deus” julgando os seus semelhantes e decretando que fora
das quatro paredes de seus cultos, não tem como algum vivente seguir a Jesus, e
que, por isso, nós, “os marginais da fé”, arderemos no fogo do Inferno. Não
aprenderam ainda, e por certo nunca aprenderão, que Jesus não deixou religião
nenhuma, a não ser a semeadura de um novo mandamento: “ amai-vos uns aos outros! ”.
Não devia perder
meu tempo com esses pobres coitados, que também são meus irmãos, contudo não
consigo me conformar diante desses discípulos do desamor. A mirabolante versão de
autoria desses malucos intolerantes, sobre aquela recente tragédia, é a de que
Deus matou o ator da TV Globo, porque ele participara de “rituais satânicos” junto
com os índios, ali nas margens do Rio São Francisco. Um absurdo. Uma
insensatez. Uma visão que, além de absolutamente anticristã, significa um berro
de intolerância, de discriminação religiosa e de desamor ao próximo. Desses
julgadores e condenadores, pela hipocrisia aprendida e praticada, nem sei se as
orações conseguem ultrapassar o teto de seus templos. Mas dos índios, acredito
piamente que as preces são escutadas com enorme prazer pelo Grande Espírito de
Deus. Nenhuma religião ou crença que eu conheça, ou de que tenha tido notícias,
pratica alguma expressão de louvor e gratidão a Deus, mais autêntica, mais pura,
mais sagrada do que nos rituais daqueles que mais genuinamente se sentem dissociáveis
da Natureza. E nós, os “evoluídos” da humanidade, vivemos como se não fôssemos
também Natureza. Talvez, por isso, a destruímos irracionalmente. No passar das
eras, interferimos nos milenares costumes de nossos indígenas, porém muitas
coisas ainda foram conservadas, principalmente no que se refere ao seu mundo sagrado.
É por intermédio da Natureza que esses indígenas se comunicam com Deus. Algo
mais propício? Abomino, sob todos os aspectos, que alguém queira impor os
deuses de qualquer religião em substituição às sagradas divindades dos nossos
irmãos.
Abençoai sempre,
ó Deus, aquela gente rústica, simples e ignorante (aos nossos olhos), que vos
oferece a sagrada coreografia de suas danças, seus cânticos e gritos de louvor,
de gratidão ou de súplicas, num cenário em que a própria Natureza é o divino
templo. Isso é muito, muito, muito mais sublime do que os rituais de algum “shopping
center da fé”, onde Jesus é a grande mercadoria. E que mercadoria, hein?!
No sentido
contrário ao comportamento desses autoproclamados “profetas” - não sei se de
Deus ou do Diabo -, na semana que passou, o Padre Massimo Lombardi, da Diocese
de Rio Branco (Acre), convidou-me para um encontro, no próximo dia 08/10/2016, com
participação de católicos, evangélicos de diversas denominações, umbandistas,
candomblecistas, xamanistas, indígenas, daimistas, budistas, e qualquer um que
se interesse por este contexto tão diversificado e complexo. Surpreendi-me bem
mais quando o padre afirmou que desta vez estendeu o convite aos ateus. Nada
mais crístico do que algo assim. Em certo momento eu quis saber do padre como
funciona esta possível “torre de babel”. Prontamente me asseverou que o
ambiente é de completa paz, pois ninguém tenta “converter” ninguém.
- “ Apenas fazemos valer o sentimento de
fraternidade que deve existir em cada um. Somos todos irmãos, filhos que somos
do mesmo Pai. Ninguém tenta impor o seu credo. Ouvimos irmãmente a todos, sem
nos prendermos a pontos conflitantes. Não entramos em qualquer discussão sobre
quem está certo ou errado, ou sobre quem está “salvo” ou não. E acredite,
professor Anchieta, que cada um tem algo muito importante a dizer aos outros.
” –
explicou o Padre Mássimo.
Sei que muitos,
de todos os lados, não aceitam isso. Sabe por quê? Simplesmente porque o
barulho da hipocrisia não permite que eles ouçam a voz do Cristo: “Amai-vos uns aos outros! “.
Parabéns, Padre
Massimo, estarei lá.
Que podemos esperar
de muitos religiosos que hoje vemos espalhados por aí? Por que esses presunçosos
semeadores de contendas proclamam tanto o nome de Satanás, vendo-o em todos os
recantos, em vez de priorizar o lado do bem e a sua prática? Pobres coitados!
E ainda se sentem totalmente puros e prontos para um arrebatamento.
Ah, amigos, vejo
neles aqueles mesmos que montaram a grande farsa contra Jesus e que, sob o
falso manto de zeladores dos caminhos de Deus, julgaram e condenaram o Divino
Homem da Galileia.
Concluo esta
crônica afirmando que essa gente me faz lembrar um sujeito mau-caráter chamado Caifás,
influente religioso daquela época, na condição de sumo-sacerdote ...
... e um Cristo
exangue, desfigurado e sem vida, no alto do Gólgota, pregado na cruz.
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