quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

MATUTO NO FUTIBÓ - Zé Laurentino

ZÉ LAURENTINO: - Grande poeta (também radialista) paraibano, nascido em Puxinanã-PB, no dia 11/04/1943. Faleceu no dia 15/09/2016, em Campina Grande, cidade onde residiu durante quase toda sua vida.   Nos velhos tempos, tomamos algumas carraspanas juntos, em alguns recantos de Campina.  O Zé era uma criatura extraordinária. Era um sujeito porreta. A Paraíba perdeu um ícone da "poesia popular".
- Oxente! Isso é hora de tu ir imbora, hômi? Ô cabra avexado da peste! Tchau, Zé!

MATUTO NO FUTIBÓ

Hoje o pessoá do mato
já tá si civilizano.
já tem rapaz istudano
pras banda da capitá;
Já tem moça qui namora
cum os imbigo de fora,
ediceta, coisa e tá.

Mas essas coisa eu istrãin,
mi dano e num acumpãin
a tá civilização ...
Quero qu’a morte me mate:
- Nunca fui numa buate;
- Nunca vi televisão.

E esse tá de cinema,
eu num sei nem cuma é ...
Avião? - Deus qui mi livre!!
- Só ando im burro ou a pé!
E seno eu brocoió,
um triato nunca vi
e tombêin nunca assisti
um jogo de futibó.

É isso mermo, patrão!
eu naci pra sê matuto,
vivê qui nem bixo bruto
dano di cumê a gado...
Mas cum certeza sô gente,
pruquê um véi, meu parente,
dixe qu’eu fui batizado.

Mais pru arte dos pecado,
um fí di cumpádi Chico
o fazendêro mai rico
dali daquele arredó,
cum priguiça di estudá,
inventô di inventá
um jogo de futibó

E no paito da fazenda
mandô butá duas barra
e eu fui ispiá a farra
do lote de vagabundo ...
mais quando oiêi... afroxei!
E acridite qu’eu achei
a coisa mió do mundo!.

Eu, cabôco lazarino,
cum dois metro de artura,
os braco dessa grussura,
medo p´ra mim é sulipa!
- de jogar tive um parpite,
e aceitei o cunvite
pru mode jogá de quipa.

Mi dero um carção listrado
e um pá de jueieira
tombém um pá de chuteira,
u’a camisa de gola,
e eu gritei: arre diabo!
- eu já peguei tôro brabo
e sigurei pelo rabo
pruquê num pego u’a bola?

Sei que o jogo começô ...
- o juiz bom e honesto -
p´ra começá era Ernesto
o nome do apitadô,
qui mitido a justicêro,
pru mode o jogo pará,
bastava a gente chutá
a cara dum cumpanhêro.

Bola vai e bola vem...
um tá de Zé Paraíba
inventô de dá uns driba
no fí de Chica Brejeira...
esse deu u’a rasteira
qui o pobe do matuto
passô uns cinco minuto,
imbolando na poeira.

O juiz mandô chutá
uma bola contra eu
pruquê meu fubeque deu
um coice no Honorato...
Aí o juiz errô !!!
Se o fubeque é quem chuto
ele qui pagasse o pato

Mais afiná, meu patrão
não gosto de confusão...
mandei o cabra chutá!
fiquei esperando o choque...
tanta fôça a bola vinha
qui vinha piquinininha
Cumo bala de bodoque!

E eu fui pegá a danada,
me atrapaei, meu patrão...
passou pru dento dos braço,
Isprudindo o tirombaço
Bem “naquela região”!
E foi bateno e eu caino
Me espulinhano no chão.

O povo batêro im riba,
Me dero um chá de jalapa,
uns treis copo de garapa,
E um chá de quixabeira.
Quando tive u’a miora
joguei a chuteira fora,
Saí batendo a poeira.

E desse dia pra cá,
nem mode ganhá dinhêro,
num jogo mais de golêro...
Nem cum chuva, nem cum só ...
Nem aqui, nem no diserto...
nunca mais passo nem perto
dum campo de futibó.

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