sábado, 14 de janeiro de 2017

VERSOS DE ZÉ LIMEIRA - O POETA DO ABSURDO

Este personagem histórico chamado Zé Limeira (1886 – 1954), natural da mesma cidade onde nasci (Teixeira – PB), foi definitivamente incorporado ao folclore nordestino. Não o conheci. Contudo, velhos familiares meus assistiram a suas cantorias, quando perambulava por aqueles pés de serra. Pelo retrato que dele se faz, era um sujeito fora de seu tempo. Muito antes do aparecimento dos astros do Rock, já chocava os costumes sertanejos com sua indumentária diferente, fitas coloridas enfeitando a viola, adornos de anéis e colares, óculos tipo Ray Ban, etc.
Os versos que improvisava fizeram de Zé Limeira um poeta diferente. Misturava personagens, fatos históricos, épocas, lugares, numa verdadeira “salada”, não importando o resultado da absurda alquimia de seus versos. O importante era RIMAR!
Orlando Tejo, paraibano de Campina Grande, poeta, advogado, jornalista, professor, peregrinou por algum tempo, colhendo “valorosos versos” desse vate extravagante e condensou tudo num livro chamado ‘Zé Limeira – Poeta do Absurdo”.

Transcrevo aqui, algumas dessas joias:

Quando Jesus veio à Terra
Foi gerente da Paulista,
Sócio de São João Batista,
Depois da Segunda Guerra...
De tanto subir a Serra
Tivero um padecimento,
Inda existe documento
Da juvenia dos dois,
Hoje, amanhã e depois
Diz o Novo Testamento.

O Marechal Floriano
Antes de entrar pra Marinha
Perdeu tudo quanto tinha
Numa aposta com um cigano,
Foi vaqueiro vinte ano,
Fora os dez que foi sargento,
Nunca saiu do convento
Nem pra lavar a corveta,
Pimenta só malagueta
Diz o Novo Testamento!

Pedro Álvares Cabral,
Inventor do telefone,
Começou tocar trombone
Na volta de Zé Leal,
Mas como tocava mal
Arranjou dois instrumento
Daí chegou um sargento
Querendo enrabar os três,
Quem tem razão é o freguês
Diz o Novo Testamento!


Quando Dom Pedro Segundo
Governava a Palestina
E Dona Leopoldina
Devia a Deus e o mundo,
O poeta Zé Raimundo
Começou castrar jumento
Teve um dia um pensamento:
“Tudo aquilo era boato”
Oito noves fora quatro
Diz o Novo Testamento!

Eu me chamo Zé Limeira
Da Paraíba falada,
Cantando nas Escritura,
Saudando o pai da coalhada,
A lua branca alumia,
Jesus, José e Maria,
Três anjos na farinhada.

Uma véia gurizada
Pra mim já é fim de rama,
Um véio Reis da Bahia
Casou-se em riba da cama,
Eu só digo pru dizê,
Traga o Padre pra benzê
O suvaco da madama.

Jesus foi home de fama
Dentro de Cafarnaum,
Feliz da mesa que tem
Costela de gaiamum,
No sertão do cariri
Vi um casal de siri
Sem comprimisso nenhum.

Napoleão era um
Bom capitão de navio,
Sofria de tosse braba
No tempo que era sadio,
Foi poeta e demagogo,
Numa coivara de fogo
Morreu tremendo de frio.

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