segunda-feira, 29 de maio de 2017

PABULAGEM DE MEUS CONTERRÂNEOS

Fragmento de “peleja” entre os poetas João Martins de Ataíde e Raimundo Pelado do Sul. Do Livro “Vaqueiros e Cantadores”, do grande e imortal folclorista nordestino Luís da Câmara Cascudo.
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João Martins de Ataíde:
Quando eu pego em longa discussão
bebo as águas caídas de um dilúvio,
e já tapei as chamas do Vesúvio
passou um mês sem haver erupção…
A cratera eu cavei até o chão
para o grande oceano eu enterrar
Quando este serviço eu aprontar
fica até uma estrada muito boa
quem quiser ir daqui para Lisboa
não precisa ir a bordo pelo mar.
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Raimundo Pelado do Sul:
Eu sozinho já amarrei uma baleia
em um dia de sábado de Aleluia
Desgotei o mar Negro com uma cuia
alegre, ouvindo a canção de uma sereia …
O mar ficou seco na areia.
Fui ajudante na tenda de Vulcano,
viajei lá por trás do oceano ,
tudo isso eu faço sem trabalho,
como é que agora eu me atrapalho
com este pobre cantor pernambucano ?
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João Martins de Ataíde:
Entre o sétimo túnel da Russinha
o trem da Serra descia em disparada
e com um tombo que eu dei na retaguarda,
rebolei todo o trem fora da linha.
Atendendo os amigos que ali vinham
porque alguns não podiam ter demora,
de um cardeiro eu peguei fiz uma escora,
fiz alavanca de dois cambões de milho,
novamente botei o trem no trilho
e o maquinista apitou e foi embora…
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Raimundo Pelado do Sul:
Fui um dia no porto de Alagoas
encontrei tudo em belas condições
tinha cento e cinquenta embarcações
entre navios, paquetes e canoas…
Na presença de mais de cem pessoas
num paquete alemão eu me encostei.
Quando ele quis partir, eu segurei,
Desta vez o Pelado criou fama ,
o oceano ficou da cor de lama
e o navio só saiu quando eu soltei.
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João Martins de Ataíde:
Fui conduzido a um campo de batalha
no momento em que o tiro detonava
e o cano da peça que atirava
tinha a boca maior que uma fornalha ,
eu escondido por trás d’uma muralha ,
tapei a boca da peça de canhão ,
deu um estrondo maior que um trovão
que a esquadra inimiga recuou,
o que é certo é que a peça detonou
Mas a bala ficou na minha mão.
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Raimundo Pelado do Sul:
Muitas vezes que estou aperreado ,
descarrego meu ódio em certa gente
deixando os astros de um modo diferente
e o horizonte sombrio, arroxeado …
Neste dia se eu for ao teu Estado
Nem o Exército me pode repelir .
Muita gente sem culpa há de sentir
no momento penoso deste apuro
passa o Recife três dias no escuro
até quando eu mandar o Sol sair…
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