sábado, 20 de janeiro de 2018

AS ILUSÕES DOS ILUDIDOS

(José de Anchieta Batista)
A realidade seria simplesmente sem graça, não houvesse o tempero do sonho e da ilusão. Não dá para alguém ser tão hostil consigo mesmo, e se fazer tão realista, a ponto de nunca se sentir um visionário ou sonhador. Isso é que faz nossos momentos da vida mais bonitos e enfeitados com as cores do arco-íris. Assim, conduzimos em nossas bagagens de malucos e desvairados, aquele saco, às vezes já roto, abarrotado das nossas pencas de sonhos e fantasias.
Sonhamos, sonhamos e sonhamos, porque é gostoso sonhar. Mas, com certeza, não podemos chamar de sonho, o sonho que se sonha sem os pés no chão. Isto é muito mais uma ilusão, porque o verdadeiro sonhar é palpável, e está ali presente na luta de cada um, sendo trabalhado em cada momento da vida. A ilusão, não.  O sonho exige a luta, enquanto a ilusão requer tão simplesmente as asas da imaginação, do devaneio, da maluquice de cada um. E assim se desenham as realidades de cada visionário, de cada sonhador.
Os sonhos vão nos embalando com mais concretude, porque os sonhos têm algo de sagrado. As ilusões, por nos enganarem tanto, têm um quê de mentira e falsidade, e, talvez por isso, sejam tão cheias de encantamento. E lá estão elas bem guardadinhas em nossos armários da alma. Umas já caducas, outras recém-nascidas; algumas já mortas, mas insepultas; outras bem moribundas, mas que teimam em não morrer. E neste contexto, alguns ideais se transformam em ilusões, enquanto muitas ilusões evoluem e se fazem ideais. As ilusões enfeitam o lado psicodélico da vida, para que não morramos de tédio todos os dias. Sim, porque elas são renováveis ou repintadas todos os dias, e parece que quando se vão, também com elas nós morremos um pouco. É isso aí. Não é somente o sonho que impulsiona a vida. A ilusão muito nos ajuda a viver, e faz uma falta danada quando se desfaz ou perde suas cores. Não trago comigo qualquer dúvida de que na vida somos carentes de sonhos, mas ... o que seria de nós sem o fabuloso mundo da ilusão?
E já que abordamos a ilusão e o sonho, concluo transcrevendo aqui os versos de “Luzes da Ribalta”, daquele gênio chamado Charles Chaplin:
“Vidas que se acabam a sorrir,
Luzes que se apagam, nada mais.
É sonhar em vão, tentar aos outros iludir,
Se o que se foi,
P´ra nós não voltará, jamais.
Para que chorar o que passou,
Lamentar perdidas ilusões,
Se o ideal que sempre nos acalentou,
Renascerá em outros corações?”.
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