(José de
Anchieta Batista)
A realidade seria
simplesmente sem graça, não houvesse o tempero do sonho e da ilusão. Não dá
para alguém ser tão hostil consigo mesmo, e se fazer tão realista, a ponto de
nunca se sentir um visionário ou sonhador. Isso é que faz nossos momentos da
vida mais bonitos e enfeitados com as cores do arco-íris. Assim, conduzimos em
nossas bagagens de malucos e desvairados, aquele saco, às vezes já roto, abarrotado
das nossas pencas de sonhos e fantasias.
Sonhamos, sonhamos e
sonhamos, porque é gostoso sonhar. Mas, com certeza, não podemos chamar de
sonho, o sonho que se sonha sem os pés no chão. Isto é muito mais uma ilusão,
porque o verdadeiro sonhar é palpável, e está ali presente na luta de cada um, sendo
trabalhado em cada momento da vida. A ilusão, não. O sonho exige a luta, enquanto a ilusão requer
tão simplesmente as asas da imaginação, do devaneio, da maluquice de cada um. E
assim se desenham as realidades de cada visionário, de cada sonhador.
Os sonhos vão nos embalando com
mais concretude, porque os sonhos têm algo de sagrado. As ilusões, por nos
enganarem tanto, têm um quê de mentira e falsidade, e, talvez por isso, sejam
tão cheias de encantamento. E lá estão elas bem guardadinhas em nossos armários
da alma. Umas já caducas, outras recém-nascidas; algumas já mortas, mas
insepultas; outras bem moribundas, mas que teimam em não morrer. E neste
contexto, alguns ideais se transformam em ilusões, enquanto muitas ilusões
evoluem e se fazem ideais. As ilusões enfeitam o lado psicodélico da vida, para
que não morramos de tédio todos os dias. Sim, porque elas são renováveis ou
repintadas todos os dias, e parece que quando se vão, também com elas nós
morremos um pouco. É isso aí. Não é somente o sonho que impulsiona a vida. A
ilusão muito nos ajuda a viver, e faz uma falta danada quando se desfaz ou
perde suas cores. Não trago comigo qualquer dúvida de que na vida somos
carentes de sonhos, mas ... o que seria de nós sem o fabuloso mundo da ilusão?
E já que abordamos a ilusão
e o sonho, concluo transcrevendo aqui os versos de “Luzes da Ribalta”, daquele gênio chamado Charles Chaplin:
“Vidas que se acabam a sorrir,
Luzes que se apagam, nada mais.
É sonhar em vão, tentar aos outros iludir,
Se o que se foi,
P´ra nós não voltará, jamais.
Para que chorar o que passou,
Lamentar perdidas ilusões,
Se o ideal que sempre nos acalentou,
Renascerá em outros corações?”.
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