José de
Anchieta Batista
No enredo bíblico para explicar o início da existência
de tudo, vamos encontrar o ser humano dando seus primeiros passos sobre a Terra.
Criados o homem e depois a mulher, foram-lhes transmitidas as regras básicas
para habitar a exuberância daquele mundo novíssimo. Já havia ali direitos e
deveres. E dentre os detalhes que enriquecem a mitológica história, muito sem
demora, aparecem os dois únicos viventes de então, Adão e Eva, violando uma
regra imposta pelo Criador:
“... da
árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás ...” (Gên 2:17).
Foi ali que começou a confusão que se propagou até os
dias atuais:
A astuta serpente convenceu a mulher a comer do fruto proibido,
e esta, por sua vez, induziu Adão a também transgredir. O Criador, diante daquele pecado de número um,
quando pessoalmente fez sua sindicância para apurar responsabilidades, o homem
botou a culpa na mulher, que lançou a culpa na serpente. Naquela confusão, chamada de “pecado
original”, todos receberam suas punições, e as carregarão por toda a existência,
segundo consta do livro sagrado. Algo, porém, ficou bem claro. O ser humano, desde
sua criação, além de trazer inclinação para transgredir, tem sempre o indicador
da mão apontado para outra pessoa. Foge de assumir as suas culpas. A esse comportamento de fuga que nos acompanha
até os dias atuais, alguém já denominou de “Síndrome de Adão e Eva”.
Recordo que em minha infância, quando a meninada toda
se acusava e não aparecia o autor do malfeito, todo mundo era punido. Naqueles
tempos, o cinturão, o cipó, o chinelo, a palmatória e, predominantemente a
palmada, eram nossos manuais de boas maneiras e eficientes instrumentos de
psicologia aplicada. Até mesmo no seminário de padres, onde estudei, e onde era
muito pregada a disciplina da consciência e o terror aos castigos de Deus, “dona
Joaninha”, a palmatória, era muito temida e sempre utilizada. Confesso hoje que
nunca me revoltei contra meus pais, nem contra o Cônego Luiz Gualberto. Ao
contrário, sou-lhes deveras agradecido.
Não estou aqui para discutir se a aplicação daqueles
métodos era algo certo ou errado, mas era nítida uma realidade: quando se desrespeitavam
as regras estabelecidas, o sujeito era levado a obedecê-las por medo do
castigo. Hoje, o respeito desapareceu, e o medo morreu diante da impunidade.
Naqueles tempos idos, prevaleciam o desconhecimento e
o despreparo na aplicação dos métodos educacionais modernos, hoje recomendados.
Ninguém ouvia falar nisso. Não posso deixar de confessar que havia exageros na
aplicação daqueles manuais de repressão às traquinagens. Aconteciam abusos,
espancamentos e selvagerias. Afirmo, porém, que eram exceções e que elas ainda
hoje acontecem por aí. Afirmo ainda que nunca consegui compreender os métodos
modernos, diante da decadência da humanidade. Perdi-me em seu cientificismo.
Precisamos de algo novo que remodele o mundo, com adequada formação de caráter das
gerações que despontam.
Neste momento, estendo meu olhar para a humanidade e
vejo que ela piorou. Na família, tão importante na formação dos cidadãos, bem
como, em todos os recantos do planeta Terra, o caos está estabelecido. O que
fazer? Juro que não sei.
Para concluir, quero que fique bem claro:
- Não estou aqui recomendando o retorno aos métodos
antigos, nem abominando os modernos. Juro que fico perdido sempre que analiso
tudo isso que hoje me cerca. Sinto que estamos sendo eliminados e perdemos a
capacidade de perceber tal situação com maior profundidade. O mundo
enlouqueceu. Alguma coisa, porém, tem que ser feita pelos que ainda conservam a
racionalidade. .
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