sábado, 27 de outubro de 2018

BRASIL DOS BRUZUNDANGAS, DE MACUNAÍMA E DO ZECA DIABO (José de Anchieta Batista)

A política praticada neste velho, mas sempre novo Brasil, nunca me gerou o menor interesse quanto a alçar-me a qualquer cargo eletivo. Funções eletivas ou, no caso, eleitoreiras, para mim, não assentam. Eu não me adaptaria aos regulamentos sub-reptícios, nem também ao conjunto dos pares. Não, por minhas virtudes que são muito poucas, mas por meu jeito de ver a sagrada missão desses prepostos.

Quando saí do Exército, em 1987, achei que deveria participar de alguma atividade na vida civil, voltada para o melhoramento da sociedade, no que tange à cidadania. Fiquei quieto por algum tempo, depois parti para a possibilidade de filiar-me a alguma agremiação partidária. Havia um desejo muito vivo de pôr em prática a nova condição de cidadão, agora liberado das amarras da vida na caserna. Aventurei-me, então, por me filiar ao Partido Democrático Trabalhista – PDT, do Brizola. Vejam bem: logo o partido do Brizola, o maior inimigo vivo de que se ouvia falar dentro dos quartéis. Mas o fiz. Ao dizer isso ao meu ex-comandante, coronel Pacheco, sujeito simples e muito boa praça, num encontro casual ali no Casarão, ouvi o seguinte gracejo, com evidente censura:

- “Nossa! Eu tinha um comunista dentro do quartel e não sabia.”- Ainda bem que os tempos já eram outros.

Aqui no Acre, o senador Mário Maia comandava o PDT e na Assembleia Legislativa tínhamos o deputado sargento Garcia, também oriundo das fileiras do Exército, que pouco tempo depois resolveu afastar-se e permanecer arredio aos embates partidários.

Inicialmente, como um neófito que de nada entendia, fiquei por ali querendo aprender como caminhar naquele mundo misterioso, de segredos, de artimanhas, onde obrigatoriamente teria que me aperfeiçoar em muitas maneiras de dar rasteiras em sapos. E nesse particular, quem não for profissional, melhor pegar o chapéu e dar o fora. Foi o que fiz. Da euforia ao desencanto foi um caminho muito curto.

Depois dessa fase, voltei a empolgar-me em 1989, na primeira campanha do Lula, vindo a filiar-me ao Partido dos Trabalhadores em 1996. Lá permaneço até os dias de hoje, no que pese meu descontentamento pessoal, por nitidamente haverem deixado de assumir erros que foram praticados. Não admitir o óbvio é uma óbvia burrice. Isso foi um forte ingrediente para nos levar ao quadro triste a que fomos submetidos pelo povo. Como remediar de imediato? Acho que agora é tarde e depende de uma inteira reconstrução.

Meus caros amigos, olho com muita revolta para esta nefasta política brasileira, cuja melhor prática é a da “politicagem”, sem compromisso com a moral nem com a ética. Tudo é muito nojento e a verdade não tem vez. Dentre tudo, o que mais me entristece é um sentimento de estagnação. As mudanças caminham como um jabuti. Parece que permanecemos sempre no mesmo lugar. E, enquanto isso, a pouca-vergonha continua se expandindo. As leis motivadoras da eterna safadeza, as cooptações movidas por interesses espúrios, o uso da mídia, a ignorância popular, o poder econômico, dentre outras motivações, fazem com que o povo simplesmente não promova o passo à frente e, assim, nunca alcance outros patamares de dignidade. E esta nossa humilde, boa e amada gente brasileira nem percebe que tem decretado continuamente grandes recuos em sua própria cidadania.

Hoje, o sentimento que tenho é de real desencanto. Não estou falando em razão dos revezes alcançados em minhas opções pessoais. Isso faz parte do grande jogo da Democracia. O problema é que o horizonte continua sempre muito escuro. Sinto-me partícipe de um quadro social dos mais tristes, onde parece que a esperança agoniza. Olho então, com amargura indescritível, do miolo de tudo isso, e grito não sei para quem:

- Triste do povo que busca “um herói” para lhe devolver pelo menos o direito de sonhar.

Atenção, amigos, isso é desalentador. Neste caso, quando encontram o tal personagem, geralmente um maior fracasso está logo ali.

Assim, ante esta realidade cruel, por vezes me coloco nos capítulos de Os Bruzundangas, do Lima Barreto, ou me encho de certeza de que sou um morador de “Sucupira, do saudoso Dias Gomes.

Existem as exceções, mas é desanimador olhar os agentes atuais da politicagem brasileira. Isso, de todos os lados. O povo não está preparado e não sabe mudar, vez que lhe faltam os atributos reais para isso, e quem está lá em cima não tem interesse algum em mínimas mudanças.

Para quê mudar?

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